“…Nas terras baixas não se tem o registro da utilização de alfabetos fonéticos anteriores à chegada de Colombo, todavia não poucas sociedades indígenas eram detentoras de complexos padrões iconográficos e mantenedoras de práticas culturais identitárias na longa duração, sendo que os grafismos executados sobre a pele e sobre suportes cerâmicos e líticos formavam um poderoso sistema de comunicação. Marajó, Tapajó e Konduri são exemplos clássicos (Barreto, 2000(Barreto, , 2015Schaan, 2014), um tipo de "escrita" "dos mitos de origem, acontecimentos sociais, políticos e rituais (Barata,1950;Pereira, 1942), legíveis e inteligíveis entre grupos culturalmente associados e funcionando de maneira eficaz na propagação de ideias e ideologias (Figura 4) do universo indígena (Almeida, 2013), uma maneira de utilização ordenada das diferentes estéticas da vida cotidiana, em que forma e sentido estão solidamente entrelaçadas no contexto da interação social (Lagrou, 2007). Em contrapartida, gerava um complicador para a mente do invasor ocidental, que interpretava o mundo com base em caracteres fonéticos, transcritos em tinta, pena e papel, como sendo "gregas e/ou romanas", que não expressam minimamente o propósito contido nesses objetos, não considerando que para essas sociedades os enunciados estéticos sancionam determinadas visões do cotidiano que, em contextos variados, participam da definição das pessoas, assim como de suas relações e produções (Amaral, 2017;Van Velthem, 2010).…”