Reflexão, Campinas, 42(1):XX-XX, jul./dez., 2017 O avanço nas pesquisas no campo dos estudos sobre a sociedade e as religiões, especificamente, obedece a algumas variáveis além daquelas esperadas e inerentes ao processo de pesquisa em geral. Ele exige um diálogo recorrente com a tradição e com o saber acumulado na perspectiva de superação, mas, também, incorporação das contribuições e problemáticas. Além disso, beneficia-se igualmente da abertura para os vários domínios do saber que exploram as dimensões da realidade sem, contudo, ignorar o peso dos condicionamentos sociais sobre o próprio conhecimento, bem como as demandas advindas da sociedade e da dinâmica do acontecer humano.Decorre disso o caráter histórico e social do conhecimento produzido sobre a sociedade e a própria História, sendo estas as questões sobre as quais a "elucidação historiográfica" se debruça. Na formulação de Dominique Julia: Voltamos, portanto, ainda uma vez, às condições de produção da pesquisa. O historiador descobre, no interior de seus métodos de análise, limites que o organizam e que tem raiz num passado bem anterior a seu próprio trabalho. A elucidação historiográfica é, portanto, a ferramenta por meio da qual assumir a herança que pesa sobre o domínio preciso de que nos ocupamos e traçar os seus limites: analisar os postulados que fundamentam os seus procedimentos constitui, para o historiador, confessar simplesmente a localização de seu discurso num espaço sociocultural preciso, bem como medir o que determina a sua diferença com relação aos discursos precedentes (JULIA, 1995, p.125). A referida proposição é de meados dos anos de 1970, momento decisivo de renovação dos estudos históricos na França. No contexto de consolidação da História Cultural, também a história das religiões parece buscar o seu lugar. Guardadas as devidas diferenças, o quadro atual dos estudos de religião no Brasil apresenta similaridades com o caso francês dos anos de 1970 e 1980, o que justifica a proposição de Julia como uma epígrafe bem apropriada.