Nas últimas décadas, as políticas públicas brasileiras tornaram-se conhecidas e reconhecidas no contexto internacional pelos impactos que geraram em diversas dimensões da realidade social no país. Diversas publicações nacionais e internacionais lançadas nos últimos anos destacaram os avanços do país com relação a mitigação da fome, redução da pobreza e desigualdade, universalização da educação básica, ampliação de acesso à água, à energia elétrica e aos bens de consumo, bem como inclusão universitária de estudantes negros e mobilidade social, entre os aspectos mais citados. 3 Nesses relatórios, em especial os produzidos pelas agências das Nações Unidas, o Brasil é citado como modelo referencial para países pobres e de renda média pela estruturação do conjunto de políticas públicas -universais, redistributivas e de reconhecimento sociocultural -desde meados dos anos 1990 e, sobretudo, nos anos 2000. Com as limitações e ambiguidades desse sistema de políticas, os resultados até então evidenciados pareciam promissores, considerando que a experiência brasileira havia percorrido apenas duas décadas, muito menos que os oitenta anos de estruturação do Estado de bem-estar em Alemanha, França e Suécia, ou que os quarenta anos em Portugal e Espanha (Castro e Pochmann, 2020).Os avanços sociais no Brasil seriam explicados, segundo vários analistas e instituições de pesquisa, pela centralidade da Estratégia Fome Zero (Aranha, 2010) e do Plano Brasil Sem Miséria (BSM) na agenda prioritária de governo, pelo volume crescente de recursos em um amplo leque de 1. O autor agradece as valiosas sugestões dos pareceristas a uma primeira versão deste capítulo, acolhidas no texto segundo a capacidade reflexiva do autor.