“…Saramago constrói personagens femininas tanto em Ensaio Sobre a Cegueira quanto em Ensaio Sobre a Lucidez relacionando o feminino como aquilo que visa ao bem comum, que é comunitário, cooperativo, solidário. Trata-se de outra forma de organizar as relações sociais, oposta à competitividade, ao egoísmo, ao consumismo, estereótipos do que é masculino (ROHRIG, 2014). Isso não significa que mulheres sejam de um jeito e homens de outro, mas que Saramago percebeu, com a sagacidade que lhe era peculiar, que uma forma de gerir as relações sociais baseadas em laços de cooperação e no bem comum, característica atribuída às mulheres em seus livros, poderia produzir um outro mundo, um novo modo de governar, pois "Na inconsistência geral das relações sociais, os revolucionários devem se destacar pela sua densidade de pensamento, de afeto, de delicadeza, de organização que são capazes de trazer" (COMITÊ INVISÍVEL, 2016, p. 233).…”