“…E a crítica, nesse passo, permeada de um senso das contingên-cias, deve acolher a dúvida e a surpresa, e, através do diálo-go e do contraponto, como a música, ser capaz de ritmar a repetição e a diferença, o mesmo e o diverso, o contínuo e o descontínuo, revelando, enfim, o humano, ondulante e dinâmico, dilacerado e inacabado, sob os caprichos da forma, transfigurado em silêncios e sons. *** Na obra e trajetória de Mario de Andrade, o sacrifício constitui a mediação que permite operar a passagem do individual para o social, do universal para o local, experimentados dramaticamente como dualidades que talvez devam, mas não podem, ser resolvidas (Fragelli, 2012). Daí o dilaceramento entre valor estético e função social da arte que perpassa o modernista paulista e que acaba por implicar o caráter paradoxal de seu sacrifício, o que, por sua vez, desloca o tema do cumprimento do destino intelectual, como o próprio autor reconhece ao passar em revista o movimento modernista em 1942: "Eis que chego a esse paradoxo irrespirável: tendo deformado toda a minha obra por um anti-individualismo dirigido e voluntarioso, toda a minha obra não é mais que um hiperindividualismo implacável!"…”