A universidade passa na atualidade por grandes e profundas transformações, incorporando novas funções e complexos desafios. Além de seu papel clássico de investigação (pesquisa) e socialização (ensino) do conhecimento, ela também se torna prestadora de serviços, é instada a incrementar a inovação e a ser fonte de transferência do saber tecnológico. Vê-se forçada a manter-se e a situar-se em face das profundas transformações trazidas pela era da revolução digital e pela hegemonia da visão de mundo neoliberal.Essas transformações, por um lado, envolvem uma enorme expansão das tecnologias, a ampliação da economia imaterial, bem como o avanço da conectividade global. Por outro, resultam em uma profunda mudança nas próprias instituições, na morfologia do trabalho, no enfraquecimento da democracia e na função pública e cultural da educação. Tais transformações pressionaram a universidade de modo que no seu interior, nas últimas décadas, coincidindo com o avanço do capitalismo neoliberal, o conhecimento crítico-formativo foi progressivamente cedendo lugar para o saber técnico gerenciado (DALBOSCO, 2023).A universidade foi deixando de ser, em grande medida, o lugar clássico da produção e socialização do conhecimento, o "centro de saber" -baseado no laço estreito entre ensino e pesquisa e voltado para questões ético-político-sociais -, para adaptar-se às demandas de uma sociedade cada vez mais estruturada de acordo com a lógica da sociedade de mercado. Dessa maneira, tende a descaracterizar-se como campo de disputa e de lutas orientadas pela pluralidade de suas vozes, para ser dirigida pelo saber gerenciado, de perfil autoritário, padronizador e excludente. O reducionismo da linguagem que a cerca é bem expresso pela referência a modelos de universidade que se atribuem uma "terceira missão", vinculada às do ensino e da pesquisa, em vez de uma "função social". De modo mais efetivo, essa linguagem genérica tende a deslocar o clássico âmbito da extensão para a relação da universidade com o denominado setor produtivo. É o caso das abordagens acerca da "universidade empreendedora" (GIMENEZ, 2017, p. 81), guiadas pela lógica do inovacionismo.Nesse contexto, a universidade tende a assumir cada vez mais um modelo mercadológicoempresarial, sendo fortemente pressionada a transformar-se em unidade de negócios, voltada a parcerias com governos e empresas, visando quase que exclusivamente ao lucro. Um rápido olhar para a rede de educação superior brasileira, com base no censo de 2020, mostra que 87,6% (2.153) das instituições de educação superior do país são privadas. Além disso, se a maioria das universidades é pública (55,2%), nas instituições privadas predominam as faculdades (81,4%) (BRASIL, 2022). Outro aspecto importante, a título de exemplo, concerne ao ensino a distância e mostra o avanço desse modelo, pressionando as próprias instituições públicas estatais e não estatais. O censo indica que entre 2010 e 2020 as matrículas de cursos