Diante do golpe civil-militar de 1964, deu-se início um processo ditatorial no Brasil, perdurando um governo exclusivo de generais por vinte e um anos. Entretanto, após mais de três décadas do fim do regime militar, sobretudo a partir das manifestações e protestos conhecidos como Jornadas de Junho de 2013, emergem anseios de uma nova intervenção das Forças Armadas para dirigir politicamente o país, com intensa propagação nas mídias digitais. Dessa forma, as inquietações acerca desse processo deram origem à nossa pesquisa, que traz a seguinte questão central: Como funciona discursivamente o enunciado “Intervenção Militar Já”, materializado nas redes midiáticas digitais, ao considerar as relações com a memória discursiva da/sobre a Ditadura Militar brasileira de 1964? O objetivo geral consistiu em analisar o funcionamento discursivo deste enunciado, inscrito, em especial, nas redes sociais, considerando as relações de memória e relações metafóricas com o discurso da Ditadura Militar brasileira. O estudo respalda-se nos dispositivos teórico-metodológicos da Análise de Discurso (AD) desenvolvida por Pêcheux (1969; 1975; 1983), além de outros estudiosos. O corpus foi constituído de trinta e seis (36) sequências discursivas (SDs), a partir da coleta de materialidades do Facebook, publicadas entre 2014 e 2018. Os resultados mostram que o discurso da “Intervenção Militar Já” inscrito nas materialidades digitais é afetado pela memória do/sobre o regime militar brasileiro (1964-1985) e pelas forças ideológicas das mídias e redes sociais – que também mobilizam as redes de memórias, na opacidade da linguagem e assim, – produzem a movimentação dos sujeitos e dos sentidos; essa trama discursiva funciona com disputa de sentidos, sob a tensão das seguintes posições-sujeito dominantes: apologia ao discurso do militarismo, com efeitos de apagamento dos sentidos de ditadura para a intervenção militar, além de efeitos de que somente uma “Intervenção Militar Já” trará solução aos problemas sociais enfrentados no país, a exemplo da corrupção, violência, entre outros; repúdio e resistência à intervenção militar, sendo esta discursivizada com sentidos de ditadura, que jamais pode retornar ao país, pela ameaça que representa à democracia e à liberdade. Ademais, o funcionamento do discurso da “Intervenção Militar Já”, sob as condições de produção e circulação das mídias digitais e das redes sociais, produziu efeitos determinantes na eleição de 2018, com militância digital em favor da candidatura do então Deputado Federal Jair Bolsonaro, um militar reformado, o qual foi eleito Presidente da República do Brasil.