A greve de 1980: redes sociais e mobilização coletiva dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo

Ferrazópolis: um bairro, duas gerações e a política

“…Tais redes tiveram, ainda, fundamental importância no apoio ao movimento operário; segundo Kowarick (1988, p. 21), " [...] as Greves de 1978Greves de -1980 foram movimentos que trazem no seu bojo uma sequência de sociabilidades forjada na vizinhança, na situação comum dos bairros desprovidos [...]". A própria "Greve dos 41 dias", levada a cabo pelos trabalhadores metalúrgicos do ABC em 1980, se sustentou por esse longo período por conta da mobilização coletiva que houve em torno do movimento, que ultrapassou os limites das fábricas e do sindicato, ganhando forte eco nos bairros com grande concentração de operários, como Ferrazópolis (KOWARICK, 1988;MACEDO, 2010;LOPES, 1987;FONTES, 1997;SECCO, 2011;ABRAMO, 1988).…”

“…Entre essas duas famílias foi possível observar a incidência de transmissões políticas mais porosas, permeadas pelo desacordo entre os pais, além da ausência do intercâmbio explícito de informações e discussões sobre a política no meio familiar. A migração para a região foi largamente incentivada, pois a mão de obra existente no estado já não era mais suficiente para suprir as necessidades das indústrias que ali se instalavam e também porque a mão de obra migrante era mais barata (ALMEIDA, 1999;MACEDO, 2010). Assim, a condição fundamental do migrante ou imigrante acaba sendo o trabalho, tratase de uma figura economicamente necessária em muitas das sociedades receptoras, pois ele é fruto do trabalho e visto "essencialmente como força de trabalho provisória e temporária" (SAYAD, 1998, p. 54 DURHAM, 1988;SADER, 1988 Nesse contexto de crescimento urbano surge Ferrazópolis, loteado para se tornar um bairro residencial, porém sem a mínima infraestrutura para receber seus novos moradores.…”

“…Assim como em outras cidades industriais no Brasil, o bairro surgiu em função da instalação de indústrias, mais especificamente, nesse caso, a Volkswagen e a Brastemp. Na cidade de São Bernardo do Campo era muito comum o desenvolvimento dos bairros ao redor das indústrias, e isso facilitava aos moradores se empregarem nas proximidades de suas residências (FONTES, 1997;SADER, 1988;PEREIRA, 2012;MACEDO, 2010 A chegada dos primeiros moradores ao bairro foi marcada pelas redes de apoio à migração, o que contribuiu para a significativa concentração de nordestinos no bairro. Via de regra, os processos migratórios são realizados envolvendo essas redes de apoio.…”

“…Via de regra, os processos migratórios são realizados envolvendo essas redes de apoio. Os migrantes se direcionavam para os lugares onde tinham familiares, conhecidos ou conterrâneos, pessoas que iriam lhes ajudar a se estabelecer na cidade e contribuir com informações sobre a vivência e as exigências da vida urbana como, por exemplo, sobre a aquisição de documentação, os meios de locomoção e, principalmente, a obtenção de emprego (DURHAM, 1973;FONTES, 2008;MACEDO, 2010).…”

“…O processo de favelização ocorreu também com certo "apoio" do poder público, pois diante do grave problema de moradia a administração pública acabou optando por não solucionar o problema habitacional daqueles que se instalavam em favelas, além de passar a buscar adesão popular e eleitoral desse setor da sociedade. Em São Bernardo do Campo, por exemplo, era comum no início desse processo (principalmente entre 1960 e 1970) que políticos eleitos "contribuíssem" com a população sem teto que se direcionava para as favelas mediante a doação de tábuas e telhas para a construção dos barracos (MACEDO, 2010 Como podemos observar, as experiências de moradia vivenciadas entre os moradores do bairro foram diferentes entre si; assim, atentos a essas diferenças, bem como às características atuais do bairro, estabelecemos, para fins analíticos, uma divisão deste em três zonas: 1) região urbanizada, porém com algumas casas ainda inacabadas; 2) favelas semiurbanizadas que contam com ruas asfaltadas, casas de alvenaria e fachadas acabadas; 3) favelas predominantemente formadas por vielas sem asfalto, cujas moradias são marcadas pela precariedade das construções. A divisão pode ser mais bem observada no mapa a seguir.…”