A Configuração das Lógicas Institucionais do Campo da Cachaça de Alambique em Minas Gerais

Abstract

Resumo: O campo organizacional da cachaça de alambique em Minas Gerais é constituído por diferentes atores e estruturas sociais. Esta configuração passou por diversas transformações desde o período colonial, marcado pela fabricação e pelo consumo marginalizados, até a atualidade, quando a bebida se consolidou como símbolo da cultura nacional. Em certos segmentos, a cachaça figura, inclusive, como um produto de alta distinção social e ampla inserção no mercado externo. Nessa direção, este trabalho teve como objetivo descrever a configuração das lógicas institucionais que constituem esse campo organizacional. Inicialmente, procuramos resgatar o contexto sócio histórico da bebida por meio de fontes documentais e entrevistas com atores que representam organizações do campo. Em seguida, delineamos as quatro principais lógicas que servem de referência para os produtores de cachaça de alambique, a saber: tradição, mercado, Estado e a lógica técnico-científica. Descrevemos os principais aspectos constitutivos destas lógicas, destacando seus pressupostos e orientações em relação a práticas e à dimensão simbólica. Nessa direção, foi possível evidenciar como a dinâmica institucional, especialmente a partir da emergência da lógica técnico-científica, orientou mudanças na configuração normativa da produção e do consumo de cachaça.

Lógicas institucionais em estudos organizacionais: o que mostram as pesquisas nacionais?

“…A explicação da realidade, por meio das lógicas institucionais, pode se dar nos mais diversos ambientes, como em organizações humanitárias (Chatwani & Islam, 2020), financeiras (Russo & Guerreiro, 2017), cooperativas (Teixeira & Roglio, 2015), do setor privado (Soeiro, Miranda & Araújo, 2016, Paiva & Brito 2019Alves & Silva, 2020), entidades ou programas do setor público (Klein & Mascarenhas, 2016, Gonçalves, Fregonesi & Moreira, 2020, Lino & Aquino, 2020, Aguiar & Aguiar, 2020, Ferreira, Rossoni & Oliveira, 2022, Cotrim & Ryngelblum, 2023, instituições de ensino (Felix & Guarido Filho, 2015;Lima & Amancio-Vieira, 2017, Fávero & Guimarães, 2019, Moutinho & Rabechini Junior, 2021, profissionais (Ayres, Sauerbronn & Fonseca, 2022), área da saúde (Picheth & Aquino, 2019), entre outros. O amplo leque de possibilidades de aplicação das lógicas institucionais evidencia diversas possibilidades de explorá-las em diferentes contextos e problemáticas.…”

“…Diversos são os fenômenos que podem ser investigados com o uso das lógicas institucionais, cujas discussões podem refletir na evolução e adaptação das instituições à medida que as sociedades e o ambiente global mudam. Sob a perspectiva das lógicas institucionais, algumas abordagens têm sido objeto de discussões como sustentabilidade e meio ambiente (Ren & Jackson, 2020), tecnologia e transformação digital (Aguiar & Aguiar, 2020), a dinâmica entre lógicas dominantes e a inserção de novas/emergentes (Teixeira & Roglio, 2015;Chaerki, Ribeiro e Ferreira, 2020), o papel dos valores e das emoções nas lógicas (Paiva & Brito, 2019;Fernandes et al, 2020;Ayres et al, 2022), contradições entre as lógicas (Soeiro, Miranda & Araújo, 2016;Russo & Guerreiro, 2017;Gonçalves et al, 2018;Lino & Aquino, 2020;Ferreira et al, 2022) desafios societais (Picheth & Aquino, 2019) etc.…”