A proposição da pan-narrativa do Antropoceno em 2002 assinalou uma inflexão na forma de interpretar a crise civilizatória que paira sobre a humanidade. Ela demarca o fim do Holoceno, era geológica de relativa estabilidade climática iniciada cerca de 12 mil anos, e que foi alterada por uma série de descontinuidades espaço/temporais -mensuradas em termos da fixação de nitrogênio, da acidificação dos oceanos, dos níveis atmosféricos de dióxido de carbono ou da perda de biodiversidade. Mais importante, o Antropoceno atribui à humanidade (antropos) status e magnitude de uma força geológica. Na era do Antropoceno 3,4 é cada vez mais reconhecido que o modo como a vida humana se organiza é ecologicamente prejudicial e põe em risco a existência da maioria dos seres vivos 5,6,7 . O crescimento exponencial de nossa liberdade e poder, ou seja, de nossa habilidade de transformar a natureza, é traduzido em uma limitação de nossa liberdade, incluindo a desestabilização das próprias condições de vida biológica. Especialmente desde a Revolução Industrial, ou mais precisamente da invenção