O sujeito diante da aceleração e da ilimitação contemporânea

Abstract

A ampliação dos fluxos tecnológicos, com sua velocidade e crescente aceleração, tem acompanhado e até mesmo provocado a emergência de um mundo líquido e doravante globalizado, em que real e virtual, profundamente imbricados, tendem a ser desprovidos de limites. A construção do sujeito na modernidade bem como as condições da vida psíquica e social foram assim profundamente perturbadas. As condições contemporâneas são dominadas por fluxos sensoriais e informacionais contínuos que, estimulando e até mesmo impondo a instantaneidade e a imediatidade, embaraçam a possibilidade de temporização e de reflexão ao longo do tempo. Esses fluxos provocam efeitos sobre as maneiras de ser, de viver, de pensar, os modos de representação de si e do outro e ainda sobre as maneiras de sentir e de perceber: ao exercer uma pressão contínua sobre os indivíduos, provocam a perda de critérios estáveis e o princípio de limites tangíveis ou pelo menos perceptíveis no espaço e no tempo. Os fluxos contínuos levam o indivíduo a formas de propriedade de si ilimitadas, ao mesmo tempo em que induzem um estreitamento do espaço interior: induzem uma insegurança psíquica e social profunda e, além disso, formas de angústia inéditas.

Imagens da cidade : discurso e produção de conhecimento

“…pela caracterização de uma sociedade do espetáculo mediada por imagens (DEBORD, 1997), e pela injunção à visibilidade de si (HAROCHE, 2011), concedendo a ela um papel expressivo. Não só porque as imagens da cidade estão impregnadas de memória e significações (LYNCH, 1997).…”

Vestígios de cooperação e solidez na sociedade líquido-moderna: um olhar sobre um centro de tradições Gaúchas

“…Bauman (2007) se refere à vida líquida como uma série de reinícios, em uma espécie de "destruição criativa", uma vida que não pode ficar parada, devendo modernizar-se, recriar-se, reiniciar. Para Haroche (2015), as condições contemporâneas da vida mental se prendem à tecnologia, à velocidade, à aceleração, induzindo uma ausência de reflexão ligada à rapidez, à instantaneidade, à imediatidade. Nessas condições, realizações individuais não se solidificam, pois as condições de ação e estratégias de reação rapidamente se tornam obsoletas.…”

A desesperança do jovem e o suicídio como solução

“…Ao considerar o pressuposto de que o processo de constituição e individuação do sujeito tem íntima relação com a interação estabelecida socialmente, ou seja, ao manter relações com o mundo social, o sujeito adquire as compreensões necessárias para moldá-lo e engendrá-lo tal como é (Morin, 2007), cabe perguntar, neste modelo social líquido e acelerado, qual a qualidade das trocas? Claudine Haroche (2015) problematiza as atuais circunstâncias do desenvolvimento da vida mental que tem sido perturbada pela aceleração, pelo imediatismo, pela instantaneidade e pela tecnologia. Nesta mesma linha de raciocínio, Bauman (2005) afirma que a tecnologia que facilita a comunicação é a mesma que afasta as pessoas, atrapalhando a vinculação, a troca de olhares e o aprendizado que as relações interpessoais são capazes de proporcionar.…”