“…Em diálogo com a literatura nacional e internacional sobre a influência da socialização familiar na escolarização de meninos e meninas -ou, mais amplamente, nas construções de gênero -nota-se uma ambiguidade que gira em torno de, por um lado, trabalhos que afirmam a existência de um controle mais restrito sobre as meninas, cerceando sua liberdade e tornando-as mais dependentes (FONTAINE, 1991;LAVINAS, 1997;BARROSO, 2008;DURU-BELLAT, 2008), e, por outro lado, pesquisas que defendem o contrário, sustentando a existência de uma maior autonomia para as meninas, levando-as a serem menos dependentes e, portanto, mais maduras e responsáveis (THORNE, 1987;MADEIRA, 1997;SOLBERG, 1997;WHITAKER, 2002;GOUYON;GUÉRIN, 2006;OCTOBRE, 2010;CHARLOT, 2009;CARVALHO;LOGES, 2014 Entre as duas perspectivas mencionadas acima, a primeira delas enuncia, na esteira do que vim apresentando neste texto, que a socialização das garotas tende a promover e legitimar a divisão sexual do trabalho e o confinamento no ambiente doméstico, fenômenos que culminam, em consonância com Lavinas (1997, p. 34), no reconhecimento de que "as meninas veem-se restringidas na sua autonomia, apesar de reiteradamente considerarem-se iguais em tudo, por princípio e por direito". Pois, se resumir os achados desta pesquisa em poucas linhas, diria que as meninas estudadas, em conjunto, sofrem com restrições agudas ao exercício de sua liberdade, particularmente no que tange à possibilidade de ir e vir, ao controle sobre sua própria rotina e à sobrecarga de normas e responsabilidades frequentemente impostas.…”