Etnografia não é método

Abstract

Aproveitei a última semana de 2013 para fazer meu recadastramento eleitoral biométrico, nesse período em que Brasília fi ca vazia e sem fi las. Fui logo atendida no posto e, com poucas pessoas presentes, passei por duas etapas. Na primeira mesa a que fui levada, apresentei os documentos exigidos: o antigo título de eleitor, a carteira de identidade e o comprovante de residência e, em troca, recebi uma folha impressa com os dados que estavam no sistema, inclusive meu histórico de votação em que constavam as duas vezes em que justifi quei o voto por ausência. Confi rmei as informações que estavam em dia, fi z as correções e introduzi telefones e e-mail, conforme solicitado. Enquanto isso, o funcionário do TRE fazia uma cópia da minha carteira de motorista. Tudo certo, assinei meu nome num tablet depois de ser orientada de que a assinatura deveria ser igual à da identidade. Conduzida à outra mesa, constatei que as informações fornecidas há poucos minutos já estavam disponíveis online para este segundo funcionário, inclusive minha recente assinatura. Com um painel atrás de mim, e um leitor óptico para coletar as impressões digitais, percebi que havia também uma câmera um pouco distante; fui informada pelo jovem que me atendia, muito solícito, aliás, que iria tirar uma fotografi a e que eu "poderia sorrir, se quisesse". * Conferência proferida nas comemorações dos 40 Anos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS, em 12 de março de 2014. Agradeço o honroso convite para participar desse momento com os colegas do PPGAS e, especialmente, a extrema gentileza de Cornelia Eckert, organizadora do evento, em todas as etapas da visita. A ideia de refl etir sobre a etnografi a como método foi primeiro testada na VI Jornada dos Alunos do PPGA/UFF em outubro de 2012, e agradeço o estímulo que então recebi.

Perspectiva etnográfica como proposta de metodologia de ensino de sociologia

“…O que é basilar na etnografia, para Peirano (2014), é o fato de ela se reinventar e ampliar os limiares teóricos da antropologia, pois etnografia não é tão-só um método. A nossa composição foi de fazer a tentativa de leitura junto aos alunos acerca de uma realidade vivida por eles em seu contexto de existência, dando-lhes a licença de construir seus próprios "mapas de sentido" (Stoer & Araújo, 2000, p. 107) Para a segunda pergunta, Oliveira (2012) defende a aplicação da etnografia como método de ensino capaz de contribuir para o estranhamento do familiar, o que é fundamental quando o ensino pretende dar conta dos fatos do cotidiano, qual seja, uma festa popular contextualizada na cultura de uma região, como é o caso descrito nesse artigo.…”

Profissionais De Educação Física Atuantes Na Musculação: A Dor Corporal Como Performance Laboral

“…O presente trabalho não considera a etnografia como um método 18 , mas uma forma do observador de conceber e se reconhecer como integrante do processo de conhecimento. Tal posicionamento do etnógrafo deve ser revisitado ou estranhado a todo instante na medida em que o resultado de uma pesquisa representa um diálogo e uma negociação de pontos de vista 19 , isto é, a (re)construção do conhecimento se estabelece por meio de intersubjetividades 20 .…”

‘Eu Tenho Que Me Reeducar’: Discursos Normativos E Práticas Alimentares Relacionadas À Perda De Peso Em Mulheres De Camadas Populares

“…19 A reflexividade presente neste tipo de abordagem privilegia a investigação e sua relação de intersubjetividade com os grupos sociais. Ela se conforma pela atenção constante sobre o que e como ocorre, considerando que a observação empírica afeta o campo e a vida social, sendo impossível isolar a produção do conhecimento do sujeito que a produziu.…”

“…Assim como a aproximação do pesquisador em relação ao fenômeno que se pretende compreender, tal processo só é possível a partir da compreensão de que a teoria é indissociável da prática. 19,20 O estudo foi desenvolvido em um Centro de Saúde que atende os moradores de um conjunto de comunidades no território de Manguinhos/RJ. Tal escolha se deu por duas razões: (1) este Centro se constitui em uma referência de atendimento à saúde na comunidade; (2) razões de segurança relacionadas ao avanço da violência neste território mediante o agravamento da crise econômica e sociopolítica no país.…”

“…Posteriormente às análises de ordenação e classificação, seguiu-se para a tarefa de agrupamento das classificações, buscando compreender e interpretar os aspectos expostos como mais relevantes e representativos nas narrativas pelo grupo. 19 Adotou-se o princípio da saturação das questões abordadas na composição do estudo para o encerramento das entrevistas. 22 Caracterização das informantes A designação "camadas populares" ou "classes populares" assumida neste estudo apoia-se na vertente de tradição antropológica que designa determinados segmentos sociais em contexto urbano no Brasil como "classes trabalhadoras".…”