Covid-19 e a população negra

Desigualdade racial na assistência à saúde do adulto internado por COVID-19

“…Tais achados permitem inferir não só que esses pacientes foram internados tardiamente na UTI e com o estado de saúde mais agravado, mas também que as dificuldades e os entraves para acessar os serviços de saúde ainda estão presentes na vida dessas populações. A manutenção do racismo e suas diversas faces se reflete diretamente nas condições e características socioeconômicas em que vivem negros e indígenas no Brasil, que se relacionam com o acesso à saúde, no seu conceito mais ampliado 36,38 .…”

“…A maioria dessas pessoas ocupa empregos informais e de setores essenciais, se manteve ativa durante a pandemia e não pôde trabalhar de forma remota; vive em aglomerados urbanos, com elevado número de pessoas por cômodo, muitas vezes sem acesso à água encanada e/ou à luz, não sendo possível manter o distanciamento social 38,44,45 .…”

“…A falta ou o inadequado preenchimento desse dado podem ser interpretados como a subjetividade do racismo e a resistência para mudanças de práticas insuficientes para a garantia de saúde para esses grupos 38 . Os registros em saúde são estratégicos e fundamentais para o conhecimento das condições de morbimortalidade de populações e para a tomada de decisão de gestores governamentais 41 .…”

Cabem recomendações para usos de “raça” nas publicações em saúde? Um enfático “sim”, inclusive pelas implicações para as práticas antirracistas

“…Raça, assim como gênero, idade e classe, tem sido amplamente empregada como categoria analítica e está presente em todo o campo da saúde coletiva, seja nos estudos biomédicos, epidemiológicos, na política, no planejamento ou na gestão 3,9,10,11,12 . Para Batista et al 13 (p. 1), "o racismo estrutura profundamente nossa sociedade e tem relação com as condições de trabalho, renda, emprego, escolaridade, local de moradia e a possibilidade de acessar ou não direitos à justiça, a bens e a serviços de saúde". Portanto, a temática étnico-racial é central para as análises sobre as abissais iniquidades existentes no país, o que tem sido potencializado por meio de perspectivas teóricas baseadas em conceitos, como o de racismo estrutural e o de interseccionalidade.…”

Raça, racismo e saúde: políticas do negativo

“…Assim, a discrepância na distribuição de vacinas é a ponta de um iceberg que evidencia como brancos determinam uma política racial para a saúde, ocupando cargos decisórios de poder e detendo o poder de escolha nos domínios políticos, dos cargos executivos, de gestão e controle organizacional, esferas em que as decisões são tomadas em benefício de seu próprio grupo racial e da sua manutenção sistemática em espaços materiais e simbólicos de vantagem e poder. Batista et al (2021) que lembram que quesito raçacor passou a ser considerado tardiamente na produção de análises e dados sobre a pandemia mediante, dado que só ocorreu mediante a pressão exercida pela articulação de diferentes entidades da sociedade civil, como movimentos sociais e organizações autônomas.…”