Condutas de risco: dos jogos de morte ao jogo de viver

Do Palco Ao Túmulo

“…Desse modo, em termos gerais, quando surgem as notícias sobre a morte, a sua recepção geralmente é vista como uma "surpresa" ou um evento inesperado, pois costuma ser sempre "esquecida" ou "escondida". Logo, o teor das reportagens pouco se sensibiliza com a agência dos sujeitos diante da morte-vida, teorizada por Le Breton (2009), assim como, a (não) racionalidade de pensar o próprio falecimento, discutido por Dastur (2002). Em outras palavras, as notícias desconsideram fundamentalmente o contexto familiar, político-legal e institucional daqueles que praticam o esporte de modo profissional.…”

“…Em que pese a importância do conceito epidemiológico de risco no sentido técnico-científico de mensuração (BARATA, 2022), torna-se imperioso também compreender tal constructo pela sua profusão de significados (LE BRETON, 2009), evitando, assim, estereotipar essa modalidade esportiva. Para além dessa perspectiva hegemônica sobre o risco com base em parâmetros estatístico-biomédicos, destaca-se que a fabricação de "corpos fisiculturistas" no sentido de "tomar bomba" também serve como redes de pertencimento coletivo (MACHADO; FRAGA, 2022).…”

“…Além disso, vale registrar que as notícias jornalísticas raramente problematizam as condutas de (não) risco nas práticas esportivas de fisiculturistas, em especial, no sentido teorizado por Le Breton (2009), quando menciona que a abordagem simbólica ou real com a morte pode estar paradoxalmente atrelada ao gosto de viver. Dessa forma, argumenta-se que a ideia de Silva (2017) sobre "limite corporal" no que diz respeito aos usos de anabolizantes pode revelar justamente a "existência humana".…”

“…Assim, esse trabalho assume alguns referenciais antropológicos como ponto de partida teórico-metodológico. Mais precisamente, essa pesquisa se ancora na clássica ideia de construção sociocultural de corpo/ morte de Mauss (2015) e de risco de Le Breton (2009). Logo, entende-se aqui que aprofundar como a mídia enuncia as mortes de fisiculturistas pode revelar representações sobre corpo-pessoasociedade fundamentais não somente para compreender valores e práticas particulares das instituições esportivas, como também expressões socioculturais referentes aos rituais de (não)…”