Tecnologias em transformação: inovação e (re)produção dos objetos entre os Asurini do Xingu

Abstract

Os significados e as implicações das transformações culturais relacionadas aos processos de permanência e mudança nas tecnologias de produção e uso dos objetos, nos mais diversos contextos sociais, são temas de várias pesquisas nas últimas décadas. Essas pesquisas revelaram que as permanências e mudanças nas tecnologias de produção e no uso dos objetos ocorrem em diferentes escalas ao longo do tempo e resultam de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais específicos de cada contexto. Também evidenciaram que o entendimento das transformações nas tecnologias implica a apreensão das condições que levaram à mudança ou, ainda, a análise dos processos de inovação. Este artigo contribui com esse debate, descrevendo e analisando alguns aspectos relacionados à produção e à utilização dos objetos pelos Asurini do Xingu, um povo Tupi que vive às margens do rio Xingu, no estado do Pará. Demonstro como as inovações, nas suas práticas tecnológicas, e as apropriações dos bens ocidentais (objetos e matérias-primas), no período pós-contato, podem ser entendidas como uma possibilidade de expressão estética e criativa e, ainda, como uma forma de ação simbólica, carregada de significado identitário.

A cerâmica paulista: cinco séculos de persistência de práticas tupiniquim em São Paulo e Paraná, Brasil

“…Nas últimas duas décadas, no Brasil, a história colonial e o passado recente dos coletivos indígenas e das comunidades tradicionais vêm sendo repensados. Não obstante, ainda são escassos os debates sobre tais temas na arqueologia (Amaral 2012;Symanski & Gomes 2012;Silva 2013;Moura & Allen 2015;Muniz & Gomes 2017;Souza & Lima 2017;Sallum 2018). A maioria se dedica aos contextos da escravização de africanos e afro-brasileiros (Lima 2002;Agostini 2010;Symanski 2010;Souza 2013;Ferreira 2015;Hartemann & Moraes 2018).…”

Imagens Dos Asurini Do Xingu Refletindo Sobre a Importância Dos Acervos Fotográficos Nos Museus

“…Este projeto teve como principal objetivo identificar os processos sociais responsáveis pela definição da variabilidade artefatual nos diferentes conjuntos tecnológicos e pela manutenção e transformação dos estilos tecnológicos dos Asurini, ao longo do tempo (Figura 2). Além disso, havia o interesse de produzir uma documentação (escrita e visual) sobre esses saberes e, ao mesmo tempo, de refletir antropologicamente sobre o modo como este povo indígena produzia os seus objetos e (re)produzia o seu modo de viver, considerando o desequilíbrio na sua pirâmide etária e a intensificação do seu contato com o modo de vida ocidental e os bens industrializados (SILVA, 2008(SILVA, , 2009(SILVA, , 2013. As velhas gerações de Asurini foram sempre muito receptivas a essas pesquisas e, muitas vezes, externavam sua preocupação de que as novas gerações não conseguiriam manter a reprodução de seus saberes tradicionais.…”

“…Na atualidade, muitos objetos não são mais produzidos entre eles, ou são produzidos em menor quantidade porque o conhecimento técnico está restrito a uns poucos indivíduos das velhas gerações. Há também, um processo de transformação e inovação das suas tecnologias (Figura 12) e uma pujança de bens industrializados nas aldeias (SILVA, 2013). Como outros trabalhos desta natureza já demonstraram acreditamos que as imagens poderão suscitar diferentes reações emocionais e afetivas e trazer à tona memórias e outros conhecimentos (AIRD, 2003;TSINHNAHJINNIE, 2003;VILELA 2015).…”

<b>Bodies, Offerings, Rituals and Genders at the Justino, Lower São Francisco</b>

“…Pesquisadores recuperaram aproximadamente 160 sepultamentos com mais de 180 esqueletos associados a materiais líticos, cerâmicos, vestígios faunísticos, estruturas de fogueiras e manchas escuras (CARVALHO, 2006(CARVALHO, , 2008CARVALHO et al 2008;MARTIN, 1994;SANTANA, 2013;SILVA, 2013, SIMON et al, 1999VERGNE, 2004;VERGNE et al, 1992;VERGNE, 2002). Estes foram divididos em quatro conjuntos ocupacionais ligados à deposição dos mortos, sendo três considerados ocupações ceramistas (cemitérios A, B e C) enquanto o cemitério D estaria associado a grupos de caçadores-coletores (VERGNE, 2004) (Tabela 1).…”