Na mesma perspectiva existem os estudos de etnogênese, preocupados em entender a colonização e suas consequências nas sociedades subalternas, porém voltando-se para o surgimento de novas identidades (Voss, 2015a), como pontua Cipolla (2012: 53): "Os grupos subalternos às vezes "se reinventam" como um meio de negociação social. Isto é particularmente verdadeiro em situações de colonialismo, onde indivíduos e grupos criaram novas identidades e modos de classificação social como estratégias de sobrevivência e / ou resistência."3 No entanto, sua aplicação é restrita e deve ser adotada apenas às situações onde novas formas culturais foram renomeadas e articuladas pelos próprios povos indígenas, os quais criam identidades que, potencialmente, representarão longevidade em um contexto de mudança contínua, como é o caso do aparecimento dos califórnios entre os séculos XVIII e XIX no estado da Califórnia, e da comunidade Brothertown, em Wisconsin, no mesmo período (Silliman, 2015). Um bom exemplo de dinamismo e persistência de povos nativos, no contexto dos Estados Unidos, é a Reserva Pequot Oriental, em North Stonington, Connecticut-uma das primeiras e mais antigas ocupações indígenas no território norte-americano. Desde 1683, essa comunidade tem negociado suas práticas culturais, incorporando objetos denominados como "europeus" nas suas práticas cotidianas, enquanto maneira ativa, e em constante transformação, garantindo a sua sobrevivência no processo de colonização, o que contraria a ideia de perda identitária, ou mesmo de passividade diante do avanço colonizador (Silliman, 2009). Ainda nos Estados Unidos, podemos destacar como a influência da cultura do povo Pueblo no Novo México transformou a economia e a arquitetura local dos colonizadores espanhóis, ao passo que estes, por sua vez, mudaram as práticas agrícolas, a organização política, os padrões de assentamento e a religião dos Pueblo (Liebmann, 2015). Assim, europeus e nativos acordaram sobre práticas culturais no sistema colonial-ao mesmo tempo que não deixaram de ser europeus ou Pueblo, desempenharam papéis importantes e decisivos em processos coloniais dinâmicos. Horning (2015) comenta que, apesar do colonialismo ter gerado relações assimétricas de poder, tanto europeus quanto grupos nativos foram obrigados a mudar suas práticas dentro do sistema colonial. No caso brasileiro, por sua vez, a antropologia tem se aproximado do pensamento da sociocosmologia indígena através de uma dinâmica que busca, sistematicamente, equiparar elementos de diferença e semelhança, transformação e continuidade, na busca por identificar os modos como a instabilidade dessas dualidades acabaram por gerar dialéticas muito especificas de identidade e alteridade (Fausto and Heckernberg, 2007). Por exemplo, as contas de vidro trazidas pelos europeus foram incorporadas em manifestações estéticas, cantos e até mesmo em mitos de origem das populações ameríndias das terras baixas da América do Sul, como é o caso da arte gráfica dos Asurini do Xingu que, tradicionalmente era aplicada tanto nas...
Resumo A Arqueologia do Colonialismo no Brasil tem sido concebida na última década na tentativa de descolonizar o seu campo de pesquisa. Passou a perceber e a construir histórias de persistência, valorizando múltiplas perspectivas e ontologias. Este estudo faz uma comparação entre três conjuntos cerâmicos e interpreta a relação peculiar entre Tupiniquim e portugueses como aliados e parceiros no processo colonial de São Paulo. As mulheres tupiniquim se apropriaram e transformaram o “outro português” e sua tecnologia em uma das materialidades coloniais - a cerâmica paulista. Tal fato não significou perda cultural, mas sim persistência de práticas por cinco séculos.
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