O cérebro como órgão pessoal: uma antropologia de discursos neurocientíficos

Abstract

Trata-se de discutir em que sentido o discurso neurocientífico sobre o cérebro produz uma determinada noção de pessoa. Em especial, invisto em autores e textos que fazem divulgação científica. A ideia do 'cérebro como pessoa' é repetida em formatos variados em livros de divulgação de importantes neurocientistas, que visam atingir os seus pares especialistas, assim como constituir e ampliar o número de novos curiosos a respeito do funcionamento do cérebro. Postulo, como contribuição ao debate, a ideia de que um 'cerebralismo' - uma concepção fisicalista de pessoa que relaciona cérebro e indivíduo - constitui um traço central na concepção de pessoa moderna.

Psicanálise e neurociências: contornos difusos? Notas em torno da noção de plasticidade cerebral

“…In both cases, the notions situate psychoanalysis and the neurosciences as integrated disciplines in an individualistic configuration (Russo, Ponciano, 2002;Azize, 2010). The perception of the individual as a central value of society is rooted in a specific cultural context: modern western culture (Dumont, 1987).…”

“…The great potential of the notion of plasticity lies in its power to provide arguments that sustain the logic of therapeutic efficacy, which includes -but is not limited to -psychoanalysis. It is in the space of "everyday neuroscience," to borrow Azize's (2010) concept, that the notion of cerebral plasticity acquires social relevance.…”

A agência da noção de bullying no contexto brasileiro a partir da etnografia de uma experiência escolar

“…Nesse panorama, estão em ação coeva com o bullying o "cerebralismo" (Azize, 2010) e a "medicalização" (Conrad;Barker, 2011).…”

“…Trata-se de uma acepção de pessoa que borra limites cartesianos historicamente nítidos entre o corpo e a mente, para submetê-los a um "monismo cerebral" (Azize, 2010).…”

“…Em meu trabalho de campo no contexto escolar, pude ter uma amostra tácita disso: ao conversar com professores acerca da trajetória profi ssional deles, a vertente da neuropsicopedagogia emergiu com destaque dentre as aspirações e as escolhas recentes de especialização dos educadores. Há, nesse foco, um partidarismo pelo "progresso contínuo do sujeito", como capaz de aperfeiçoar constantemente seu cérebro, órgão plástico no mais alto grau, pela via do aprendizado (Azize, 2010).…”