O acesso à saúde pela população em situação de rua da Avenida Paulista: barreiras e percepções

Abstract

RESUMO Objetivo Descrever a percepção de pessoas em situação de rua que permanecem na Avenida Paulista da cidade de São Paulo em relação ao acesso aos dispositivos de saúde da região. Método Pesquisa de abordagem qualitativa, realizada com 10 pessoas que se encontravam em situação de rua na Avenida Paulista em janeiro de 2019. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada, e a análise dos achados se deu pela hermenêutica–dialética. Criaram-se duas categorias de resultados: Serviços de saúde acessados na região pela população em situação de rua; Barreiras de acesso à saúde pela PSR da Avenida Paulista de São Paulo. Este estudo obteve aprovação ética. Resultados A procura por serviços de emergência se dá como a principal porta de entrada para as pessoas em situação de rua da região, e entre as barreiras enfrentadas, o preconceito é colocado como o principal fenômeno. Conclusão É preciso considerar as especificidades dessa população, compreender suas concepções do processo de saúde-doença e suas trajetórias, para que, dessa forma, possa-se aprimorar os serviços e garantir o acesso à saúde deste grupo vulnerável e em crescimento.

Universalização do acesso à saúde: um desafio para a população em situação de rua na Atenção Primária à Saúde

“…(B1) Cervieri et al (2019) ressaltam que o acesso aos serviços de saúde pela PSR se dá não por acompanhamento de doenças crônicas, mas pelas consequências da vida nas ruas, como na procura de atendimento por lesões geradas por situações de violência ou abuso de álcool ou outras drogas. Oliveira et al (2021b), em estudo realizado com a PSR da capital paulista, complementam que a procura pelos serviços de saúde ocorre pelos equipamentos de urgência, muitas vezes pelo desconhecimento sobre os outros serviços existentes. Os autores também apontam que a busca pelo atendimento ocorre como última alternativa.…”

“…Como descrito anteriormente, por terem tentativas anteriores de atendimento mal sucedidas, a pessoa em situação de rua tende a não retornar ao atendimento na UBS (BRASIL, 2012b). Oliveira et al (2021b) apontam que a burocracia para conseguir atendimentos, a demora para conseguir exames, a distância geográfica dos centros de saúde e a negligência dos profissionais da APS quanto a seu estado de saúde, fazem com que muitos não voltem mais para novos atendimentos e procurem os serviços de urgência quando há necessidade. Barba et al (2021) ressaltam que o distanciamento desses cuidados básicos de saúde acarretam restrições em atividades de promoção e proteção à saúde, atrasos em diagnósticos, adiamentos nos cuidados, problemas na continuidade dos tratamentos, o que pode aumentar taxas de internações por agravamentos de doenças crônicas.…”

“…Por outro lado o profissional da equipe do Consultório na Rua entrevistado B2, entende que a burocracia existente no acesso aos serviços das UBS interferem na espera pelo atendimento, sendo que esse usuário tem outras demandas envolvidas fora a consulta médica, como horário para entrada nas instituições de abrigamento, nos restaurantes populares e a luta pela subsistência financeira e alimentar. Oliveira et al (2021b) alertam que o modelo biomédico e curativo de atendimento, desconsidera o contexto das especificidades da rua, dificultando o vínculo e o tratamento de saúde da população em situação de rua.…”