O presente artigo propõe uma leitura do conto A procura de uma dignidade de Clarice Lispector, segundo a perspectiva de que é possível identificarmos a maneira como a personagem se forma a partir da valorização da beleza, ilustrando a predominância da estética por meio do uso da maquiagem, da moda e demais artifícios de embelezamento, seja para se mascarar ou para se transformar em mulher mais atraente. No entanto, quando esta mulher se descobre sem maquiagem ou acessórios, a partir da real percepção do ser e de seu interior, ocorre uma libertação que lhe machuca, levando-a a uma crise de identidade. Este estudo sinaliza, portanto, que a beleza no tocante ao espaço literário não pode ser vista como mera futilidade, mas sim como elemento formador. Vislumbramos, no conto em cotejo, o empenho em ser bela, em demonstrar à sociedade uma imagem que não traduz verdadeiramente o seu eu interior. Clarice, deste modo, realiza uma crítica à cultura patriarcalista da época, desconstruindo os estereótipos moldados pelo modelo falocêntrico. Há, portanto, na personagem do conto, a incerteza em ser aquilo que a sociedade patriarcalista dela espera (no que concerne a comportamento e beleza) e o que no seu íntimo interior ela deseja ser na realidade. O presente artigo surge, então, com o intuito de contribuir com reflexões acerca do modo como ocorre, na Literatura clariceana, o rompimento com a máscara forjada às personagens cambiantes. Deste modo, suas personagens suscitam reflexões relativas à figura feminina enquanto sujeito singular e integrante da sociedade.