Violências e direitos humanos em pesquisa com crianças

Abstract

ResumoO objetivo do artigo é apresentar os caminhos trilhados na pesquisa com crianças nos anos de 2012 e 2013, em uma escola pública municipal de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, bem como ouvir as vozes das crianças sobre as temáticas da violência e direitos humanos. Os referenciais teóricos foram os dos estudos de gênero e dos estudos culturais. Os pressupostos metodológicos foram os da pesquisa com crianças com as seguintes estratégias: encontros semanais com grandes grupos, da sala toda, e encontros com pequenos grupos. No artigo, priorizamos as ações realizadas na primeira etapa do projeto, nos encontros dos grandes grupos, para a produção escrita e desenhada das crianças em atividades que versaram as seguintes questões: violência contra criança; como cuido do meu corpo e o protejo; perigos de meninos e meninas dentro e fora de casa; direitos das crianças e violência dentro e fora da escola. As crianças demonstraram inicialmente ter poucos argumentos para falar sobre as situações de violência já presenciadas, mas aos poucos foram encontrando espaços para pensar a respeito e condições de serem ouvidas. Começaram a perceber a fertilidade das discussões e passaram a entender que muitas crianças estão em situação de vulnerabilidade e que necessitam conhecer seus direitos para poder se proteger. As temáticas da violência e dos direitos humanos foram pulsantes e nos fizeram pensar que as crianças querem discutir esses assuntos; no entanto, nem sempre encontram espaço para isso, sobretudo na escola. Palavras-chaveViolência contra crianças -Direitos humanos -Gênero.

Violência doméstica e intrafamiliar impactos no processo de escolarização

“…Nesse contexto, as vítimas de violência sexual apresentam mais problemas de saúde e buscam por atendimento, sendo expostas ao alto risco de desenvolvimento de comportamento agressivo e antissocial na idade adulta (JUSTINO et al, 2015apud SANTOS et al, 2019. Xavier Filha (2015) afirma que as crianças de seu estudo desconsideram a família como principais agressores, desse modo, relacionam a violência à fatores externos contradizendo o alto índice de violência por familiares. A autora discute as formas de violência e revela que para proteção e cuidado é necessário que as crianças se reconheçam como sujeitos de direitos.…”

“…A autora discute as formas de violência e revela que para proteção e cuidado é necessário que as crianças se reconheçam como sujeitos de direitos. Por esse motivo, Xavier Filha (2015) defende que é preciso ceder espaço e condições nas instituições escolares para que as crianças se expressem, reflitam e sejam ouvidas.…”

Concepção de violência para crianças do Ensino Fundamental I

“…Outra pesquisa realizada no ensino fundamental I teve como objetivo compreender o que as crianças sabiam sobre violência contra criança, como elas cuidavam do seu corpo e o protegia, perigos de meninos e meninas dentro e fora de casa; direitos das crianças e violência dentro e fora da escola (Xavier Filha, 2015). Nos resultados encontrados pela autora sobre os tipos de violência mais graves contra crianças, nas meninas os dados apontaram por ordem de relevância: a violência física (puxões de cabelo, espancamento, queimaduras com ferro de passar roupas e chapinha de cabelo, chutes, entre outros), violência sexual (estupro, divulgação de fotos e vídeos na internet), abandono e negligência, e por último a violência fatal (assassinatos com arma de fogo, enforcamentos e atropelamento).…”

“…A pesquisa apontou que a violência física é a mais praticada contra as crianças, além de identificarem o trabalho infantil, a exploração de menores em situação de rua, seguidas da violência sexual, a negligência e a violência psicológica, em especial o racismo. A autora deixa claro que em nenhum momento do estudo as crianças relataram serem elas as vítimas das violências citadas, mas que conheciam pessoas próximas que já foram vítimas e que sabiam dessas violências por meio de programas de televisão (Xavier Filha, 2015). Freitas, Borges & Carvalho (2019) realizaram uma pesquisa ação com crianças do terceiro ano do ensino fundamental, voltada para a mediação de conflitos, identificando os sentidos do bullying para as participantes.…”