Esta pesquisa tem como objetivo compreender o projeto estético da obra de Manoel de Barros por meio da relação dialógica estabelecida entre o poeta e o artista plástico Arthur Bispo do Rosário. Desse modo, analisar-se-á como esse autor consagrado, por retratar as "grandezas do ínfimo", utilizou-se de elementos banais, marginalizados e até mesmo da questão da loucura, por meio de um diálogo com o ilogismo, em suas obras, e de que forma os elementos e a proposta estética de Arthur Bispo do Rosário são abordados na obra de Barros, ou seja, qual a carga avaliativa da poética de Bispo para Barros. Bispo do Rosário é considerado um dos maiores artistas plásticos brasileiros e construiu toda sua obra durante o período em que esteve internado na Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro. Diagnosticado esquizofrênico paranoide, utilizava a matéria sem prestígio para a construção de seu legado, e tinha a missão na terra de reconstruir o mundo após o juízo final, e como resultado dessa missão, ele significou objetos em desusos tal qual Manoel de Barros monumentou os restos. Dessa conjuntura, propomos um diálogo entre a poética de Bispo e Barros, pensando a significação das coisas por meio da linguagem poética que os une. Dentro dessa dimensão dialógica, propomos ainda analisar a construção de imagens que perturbam a lógica na obra de ambos. Para Manoel de Barros, a imagem poética é uma forma de transcendência da linguagem. Ele desconstrói conceitos pré-estabelecidos, permitindo uma nova compreensão do mundo e, consequentemente, do ser, a partir de um projeto de refazer o mundo por meio dessas imagens em um diálogo com o ilógico, com o desconexo, com o onírico e com a significação das coisas banais. O diálogo de Manoel de Barros com as artes plásticas se dá de uma forma profunda, ao dedicar-se aos estudos dessa arte, por um ano, na Escola de Arte Moderna e Contemporânea de New York (EUA), após uma viagem que marcou todo o seu projeto estético e político. Nesse contexto, os diálogos com as artes plásticas, de um modo geral, são uma constante na obra de Barros, contudo, elegemos aqui os diálogos que o poeta estabelece com Bispo do Rosário, por acreditarmos que Bispo é mais do que uma referência na obra de Barros, ele concretiza o projeto do poeta de como fazer um livro que fizesse o nada aparecer. Bispo é um dos "eutros" de Manoel de Barros, que traduz, em sua poética, uma carga avaliativa maior nos diálogos que Barros estabelece com as artes plásticas. Nessa perspectiva, tanto Barros quanto Bispo do Rosário buscam a ressignificação das coisas por meio da construção de imagens.