A iniciação científica no nível de graduação geralmente consiste na participação de um aluno do curso médico em um projeto de pesquisa em andamento conduzido por um docente. Usualmente, o aluno, através da orientação deste docente, pleiteia uma bolsa de iniciação à pesquisa junto a uma fonte de fomento como, por exemplo, FAPESP (no caso de São Paulo) ou CNPQ que, se outorgada, passa, além de lhe prover uma contribuição financeira mensal, a requerer relatórios periódicos do andamento de seu projeto, bem como da apreciação do docente que lhe orienta acerca de seu desempenho. Para termos uma idéia quantitativa, ainda que grosseira, da situação da iniciação à pesquisa no Brasil, analisemos em linhas gerais a situação do Estado de São Paulo, responsável por cerca de um terço das escolas médicas do País, isto é, 26 escolas médicas e cerca de 13.000 alunos de medicina. A FAPESP, em 2004, forneceu cerca de 300 bolsas e o CNPQ cerca de 2400 bolsas de iniciação à pesquisa para a área de saúde para o estado paulista. Se considerarmos que apenas uma fração destas bolsas foi outorgada para estudantes de medicina, veremos que provavelmente menos do que 10% destes alunos recebem uma bolsa de iniciação ao longo do seu curso médico. Este modelo, entretanto, tem suas limitações, pois é restrito a uma minoria de alunos que podem contar em suas respectivas escolas de medicina com a presença de investigadores produtivos e experientes; geralmente, o aluno não participa da idealização do projeto no qual vai participar, apenas aderindo a ele quando este já se encontra em andamento dentro de uma linha de pesquisa do orientador e, finalmente, por ser esta uma atividade de cunho extracurricular, há crescente dificuldade, à medida que o aluno progride no curso médico, de se dedicar a ela pelo envolvimento em plantões e outras atividades didático-assistenciais típicas do internato.Uma outra possibilidade para que alunos de graduação se aproximem de atividades de pesquisa seria oferecê-las rotineiramente no contexto de uma atividade extracurricular muito difundida entre muitas escolas médicas do País: as ligas estudantis. Em nossa experiência na Faculdade de Medicina da Fundação ABC (FMABC), nos últimos 10 anos desde a criação da Liga de Oncologia, denominada Sociedade Acadê-mica de Estudo e controle do Câncer (SAECC), juntamente com os alunos envolvidos nesta atividade, criamos uma rotina de elaboração e execução de projetos de pesquisa que têm sido muito profícua. Além de atividades assistenciais semanais sob supervisão dos médicos assistentes do serviço em um ambulatório de oncologia geral especialmente designado para alunos, anualmente os alunos se dividem em quatro grupos e cada um destes elabora um projeto de pesquisa diferente sob orientação de um docente e assistên-cia de um monitor de pesquisa. O monitor de pesquisa é um aluno de quinto ou sexto ano, escolhido pelos próprios alunos consensualmente ao longo do ano, com pelo menos dois anos de experiência nas atividades científicas da SAECC e que se dedica a manter todos os projetos e...