Resumo:Este artigo visa compreender as mudanças ocorridas no sistema tradicional de roça itinerante no litoral de Santa Catarina ao longo das últimas quatro décadas. A pesquisa foi desenvolvida junto a agricultores tradicionais moradores de duas microbacias hidrográficas do município de Biguaçu-SC. A unidade amostral foi a propriedade onde reside o informante-chave, selecionado via Bola-de-Neve. Foram conduzidas entrevistas semiestruturadas, observações participante e turnês-guiadas para coleta de dados. A análise de dados se deu por meio do software Atlas.ti, de estatística descritiva e análise multivariada de Componentes Principais. Os dados foram interpretados com base na linha histórica de ocorrência. A pesquisa diagnosticou que o manejo realizado pela população local se fundamenta na condução periódica de cultivos agrícolas e florestais, num sistema de rotação com períodos de pousio. As principais culturas agrícolas utilizadas eram a mandioca, a banana, o milho, o café e a cana-de-açúcar, mas atualmente apenas a mandioca tem forte expressão. Para todas as fases de desenvolvimento do manejo os agricultores apresentam conhecimentos específicos de leitura da paisagem e da dinâmica florestal. Mudanças nas políticas agrícolas e gestão das florestas nativas têm afetado diretamente o sistema de roça itinerante nas microbacias estudadas. A população local apresenta relação intrínseca com os recursos florestais nativos devendo ter seu modo de vida respeitado e seu sistema tradicional valorizado. Palavras-chave: Roça-de-toco. Agricultura familiar. Florestas secundárias. Populações tradicionais. Ecologia histórica.
INTRODUÇÃOAs principais bases para compreender as respostas das paisagens perante a influência das ações humanas provêm do arcabouço teórico da ecologia histórica, bem como para analisar as transformações humanas resultantes das transformações na paisagem (LUNT; SPOONER, 2005; BALÉE, 2006). Na complexidade da paisagem, os 1 Doutoranda em Recursos Genéticos Vegetais e pesquisadora