Representações sobre o uso de álcool por mulheres em tratamento em um centro de referência da cidade de São Paulo - Brasil

Abstract

O objetivo deste trabalho foi compreender as representações e os significados elaborados sobre o uso de álcool por mulheres em tratamento no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), localizado na cidade de São Paulo-Brasil. Para tanto, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com mulheres que fazem uso considerado abusivo de álcool. Para essas mulheres, as representações sobre o uso do álcool estão ligadas às relações familiares, profissionais e de gênero, que definem os modos de classificação do uso do álcool concebidos como socialmente aceito e como abusivo e, por essa via, acionam um sistema de acusações, que envolve os valores próprios do universo sociocultural no qual estão inseridas, identificando-as como "mulheres que abusam do álcool", isto é, mulheres que não cumprem suas obrigações sociais nas esferas da família e do trabalho.

Mulheres em tratamento ambulatorial por abuso de álcool: características sociodemográficas e clínicas

“…The authors state that the consequences of female alcoholism identified by the patients were frequently related to their families and the differences in gender relationships within the family. The representation of "women suffering from alcohol abuse", for example, was identified as pertaining to women who find it difficult to adequately perform the social role of "mother", "care-giver" and "wife", that is, the woman who consumes alcohol in an abusive manner was described by this sample as being someone who does not perform her social role (17) . The medical records also included statements of other family members with alcohol abuse (n = 22; 81.5%), namely, husbands (n = 12; 31.6%), parents (n = 09; 23.7%) and siblings (n = 07; 18.4%).…”

“…Data on suicidal thoughts or suicide attempts were found in 57.1% of the records and symptoms of depression and anxiety were found in 52.4%. Some hypotheses are presented in the literature for this comorbidity, including the hypothesis that there is a common factor for both diagnoses; the hypothesis that disorders caused by substance use are secondary to the psychiatric disorder; the hypothesis of a secondary mental disorder to the disorder of substance abuse; the two-directional hypothesiseach disorder increases the chance that the other will appear (14)(15)(16)(17)(18)(19)(20) .…”

Alcoolismo materno e as implicações no cuidado da criança: estudo qualitativo

“…Durante muito tempo, o alcoolismo esteve relacionado à população masculina como forma de vinculação social. No entanto, nos últimos anos observa-se, em todo o mundo, crescente aumento do alcoolismo feminino (2) . O panorama do alcoolismo entre as mulheres dobrou a partir do ano 2001 e alcançou a proporção de uma mulher para cada três homens alcoolistas, o que demonstra a suscetibilidade cada vez maior das mulheres para o uso de álcool.…”

Rastreio e intervenção breve para mulheres que fazem uso de risco e nocivo de álcool atendidas em serviço de atenção primária à saúde

“…Além disso, diante de uma perspectiva de gênero, é preciso considerar que a sociedade entende o uso de álcool da mulher como descontrole e abdicação do seu papel socialmente determinado de ser "mãe", "dona de casa" ou "trabalhadora", ou seja, representações limitadas e equivocadas, que se estendem a todo o contexto de APS, tanto entre os profissionais quanto entre outros usuários (Campos, Reis, 2010). Devido aos apontamentos de que a IB é eficaz para a diminuição do consumo de álcool nos serviços de APS, pode ser também eficaz no contexto de atenção primária brasileiro, além das mulheres constituírem uma população com peculiaridades a serem levadas em consideração, ressalta-se a necessidade de investigação de estratégias de prevenção do uso de álcool que sejam específicas para o sexo feminino.…”

“…Além das distinções do consumo de álcool em mulheres relacionadas às condições biológicas, essas também podem ser influenciadas por características atribuídas às mulheres que são construídas socialmente, ou seja, por questões de gênero. Normas sociais podem explicar, por exemplo, as maiores taxas de abstinência entre elas quando comparadas aos homens, pois são vistas como pessoas que não devem ou que não precisam consumir álcool durante sua vida (Bernards et al, 2009;Campos, Reis, 2010). As variações no padrão de uso entre as mulheres encontradas em diferentes países também indicam uma forte influência de fatores culturais (Wells et al, 2011), entretanto as diferenças de consumo influenciadas pelo gênero vêm diminuindo nos últimos anos, sugerindo mudanças na cultura dos padrões de consumo de álcool da mulher construídos socialmente, ou seja, o beber feminino tem sido mais aceito (Erol, Karpyak, 2015).…”