Análise dos impactos da COVID-19 à coleta de resíduos sólidos domiciliares, recicláveis e de serviços de saúde no município de Araraquara (SP), Brasil

Abstract

Desde o início da pandemia, novos procedimentos foram desenvolvidos para a proteção da vida urbana, os quais podem ter afetado a coleta de resíduos sólidos em municípios de médio porte. O objetivo principal foi analisar os impactos da COVID-19 à coleta de resíduos sólidos domiciliares, recicláveis e de serviços de saúde em Araraquara, cidade do interior paulista. A análise de dados foi realizada de janeiro a julho de 2020 e no mesmo período em 2019. O município registrou aumento dos casos da doença ao longo do 1º ano da pandemia e essa situação pode ter desencadeado certa variabilidade à coleta de resíduos sólidos decorrentes de algumas evidências, a partir do isolamento social, do comportamento da população, da existência de política pública mais restritiva. No período analisado, os bairros mais afetados pela COVID-19 foram Centro, Vila Xavier, Jardim Selmi Dei-I, Jardim Iguatemi e Vale do Sol. As coletas regular e seletiva foram mantidas, de acordo com o plano de contingência do município. Houve redução da coleta para a maioria dos resíduos sólidos estudados nesta pesquisa, especialmente no início da pandemia. Na pandemia, a coleta de resíduos sólidos domiciliares em Araraquara foi reduzida, em média, 8% (0,69 kg/hab.d), em relação ao esperado pelo gestor público (0,75 kg/hab.d). A taxa de resíduos sólidos do município poderia ser uma alternativa, entre outras, à prevenção de eventos com elevado risco de contaminação à sociedade.

Condições de Trabalho dos Catadores de Resíduos Sólidos em Tempos da Pandemia de Covid-19

“…Como essa ocupação é considerada como insalubre de grau máximo, é importante que esse trabalhador use EPI para se proteger dos riscos inerentes a profissão (Machado, 2016). Acrescenta-se como risco, desde o ano de 2020, a contaminação pelo novo coronavírus, que se tornou uma doença pandêmica em tão pouco tempo após o registro do primeiro caso (Ventura et al, 2021).…”

“…Por ser uma doença recente, esses trabalhadores buscaram manter os cuidados que já tinham antes da pandemia, mas não ficaram livres da doença. É provável que eles tenham sido contaminados por meio de colegas de profissão, familiares, amigos ou ainda pelo contato com os materiais coletados, pois a permanência do vírus SARS-CoV-2 pode ser de 24 horas no papelão, cinco dias no alumínio, cinco dias no papel e nove dias no plástico (Ventura et al, 2021), ainda que haja controvérsia, uma vez que a doença é nova e pouco se sabe sobre ela. Considera-se que esses materiais foram os mais coletados pelos catadores de RSU do presente estudo.…”

“…As diversas vulnerabilidades desses trabalhadores foram agravadas com a pandemia da Covid-19, pois os resíduos sólidos foram considerados também, veículos de transmissão do novo coronavírus (Ventura et al, 2021), tornando-se mais um risco aos catadores que continuaram sua labuta. Por conta da necessidade não puderam se abster do trabalho.…”

Covid-19 e gestão dos resíduos sólidos urbanos: uma análise bibliométrica

“…Na Figura 4, é possível observar a distribuição geográfica de publicações relacionadas a RSU e à COVID-19 no mundo. Os pesquisadores destacam em seus trabalhos que medidas de distanciamento social/físico e de bloqueio levaram a uma mudança e a um aumento nos resíduos domiciliares (VENTURA et al, 2021), sendo que a atual situação da pandemia poderá continuar além de 2025. Dessa forma, as variações imprevisíveis na quantidade e na composição dos resíduos pressionam os formuladores de políticas a reagir dinamicamente (KULKARNI; ANANTHARAMA, 2020).…”

Waste from health services generated during the COVID-19 pandemic at the University Hospital

“…Outros municípios, por sua vez, recomendaram o fechamento imediato dos galpões de triagem das cooperativas e associações(DIAS et al 2020).A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ABRELPE (2020) propôs manter as atividades de coleta seletiva, com a condição de que se mantivessem cuidados de proteção individual. A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental, entretanto, defendeu a paralisação do setor dos materiais recicláveis, diante da impossibilidade de os profissionais trabalharem com equipamentos de proteção individual adequados (ABES, 2020).Para alguns autores, no cenário pandêmico os cuidados com os resíduos hospitalares devem ser rigorosos, necessitando criar protocolos mais seguros de gestão e manejo dos RSS, considerando que uma das possíveis formas de transmissão da COVID-19 é por meio dos resíduos sólidos infectados, especialmente os RSS.SegundoVentura et al (2021), no município de Araraquara/SP, houve queda na coleta de papelão analisando os meses de fevereiro a junho de 2020 em relação ao mesmo intervalo em 2019, apresentando o mês de maio de 2020 e 2019 o menor percentual de massa coletada (52,5%). Contudo, em julho, houve ampliação significativa da coleta de papelão em aproximadamente 97%, quando comparado ao mesmo período de 2019.…”