“…Ao tomar por base a Etnografia ameríndia, pode-se apreender como os ritos funerários são, geralmente, momentos de exegese artística/estética, em que os sistemas de organização social, política e cosmológica são reproduzidos, atualizados e transformados. Os eventos funerários também podem integrar momentos "festivos", concentrando diferentes grupos regionais e envolvendo atividades de canto, dança, ritos de iniciação, caça, produção e consumo de comida e bebidas, lamentação, entre outros (Carneiro da Cunha 1975;McCallum 1996;Barcelos Neto 2008, Perrone-Moisés 2015 Villaça 1992) A expansão regional da estética das urnas funerárias indicaria, então, não apenas o compartilhamento de um conjunto de tratos funerários (associados ao enterramento secundário em cerâmicas, por exemplo), como a própria forma de se pensar e compreender a morte e de significar e ressignificar a perda de alguém dentro de um coletivo (Rapp Py-Daniel 2014). No entanto, antes de adentrarmos o universo das urnas polícromas e da iconografia associada a elas, gostaríamos de situar estes materiais dentro de um universo mais amplo de urnas funerárias amazônicas, às quais convencionou-se chamar de "antropomorfas", ou seja, em forma de gente.…”