A ideia do estrangeiroSuponhamos que eu tivesse levado três, no máximo cinco minutos para apanhar a mochila, essa bagagem típica e mínima de quem não se importa de andar de lá para cá o tempo todo sem paradeiro, saltar do trem e subir as escadas da plataforma até o corredor de saída, naquele passo meio desconfiado dos recém-chegados a algum lugar onde nunca estiveram antes. (Abreu, 2002, p. 17).No conto Bem longe de Marienbad, que compõe a obra Estranhos estrangeiros, de Caio Fernando Abreu (2002), há evidências da construção e afirmação da identidade do sujeito que se exila voluntariamente, que, em uma nova relação espaço-temporal, tem de criar novas situações de existência nesse espaço. Esse conto se passa em SaintNazaire, na França, onde o narrador-viajante desembarca solitário em uma estação de trem, somente com sua mochila e seu olhar, e inicia um relato de viagem mostrando seu antagônico desejo de ser reconhecido em terra estrangeira. Em meio a pensamentos e ações, vontades e algumas realizações, o relato do viajante se dá na busca por K., um provável amor que, durante a narrativa, representa a constante ausência. Um dos pontos centrais do conto é: como podemos existir no espaço entre-lugar, ou seja, quem é esse sujeito de destino itinerante, que encontra no deslocamento a acolhida, que persiste em buscar e construir presenças a fim de preencher ausências, que se reconhece enquanto um ser em permanente trânsito e que aceita, no final de tudo, o provisório como lar?