1996
DOI: 10.1590/s0104-93131996000200006
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Três premissas perniciosas no estudo do gueto norte-americano

Abstract: Este artigo é um exame crítico de três premissas que dominaram e viciaram o debate recente sobre divisão racial e pobreza urbana nos Estados Unidos: a) diluir a noção de gueto fazendo-a designar simplesmente uma área urbana de intensa pobreza, o que obscurece a base racial da pobreza e despe o termo de seu significado histórico e de seus conteúdos institucionais; b) a idéia de que o gueto é uma formação social "desorganizada" que pode ser analisada em termos de falta e deficiências, sem identificar os princípi… Show more

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“…7 Cabe ressaltar a necessidade de mais estudos comparativos sobre o tema, com o cuidado ao tratar o conceito de guetos norte-americanos, evitando reducionismos como as noções de redutos desorganizados ou exóticos. Sugere-se a leitura de Wacquant (1996). 8 Ver SCHWARCZ, 1993, p. 23-67.…”
Section: A Precariedade Segundo Coresunclassified
“…7 Cabe ressaltar a necessidade de mais estudos comparativos sobre o tema, com o cuidado ao tratar o conceito de guetos norte-americanos, evitando reducionismos como as noções de redutos desorganizados ou exóticos. Sugere-se a leitura de Wacquant (1996). 8 Ver SCHWARCZ, 1993, p. 23-67.…”
Section: A Precariedade Segundo Coresunclassified
“…Gonzalo sorriu. Ao contrário, por exemplo, do que ocorre com italianos, árabes, japoneses e judeus, não há um bairro tipicamente boliviano na cidade, nem sob a forma de gueto (Wacquant, 1996, Crush, 2005, nem de enclave étnico (Qadeer, 2004, Marcuse, 2004. Não há, enfim, um claro e definido 'lá' boliviano em São Paulo (Cymbalista e Xavier, 2007: 10) -a Rua Coimbra parece aos poucos configurar este 'lá' boliviano, ainda que se trate de aglomeração bastante recente de comércio e que ocupa pouco mais que um quarteirão no bairro da Mooca.…”
Section: VIIIunclassified
“…Os conservadores inscrevem-se nesse registro da culpabilização dos pobres por sua própria pobreza (blaming the victim), tendo influência significativa na formulação de políticas públicas, especialmente nas décadas de 1960 e 1970, por meio de estudos que enfatizavam os efeitos nocivos das políticas de bem estar 14 , que estariam estimulando o "parasitismo social" (Murray, 1984) 15 . Por sua vez, os liberais -entre os quais destaca-se a posição de Wilson (1987) 16 -não colocam a questão da pobreza no registro dos valores 10 Massey e Denton (1993) identificam no debate norte-americano quatro explicações para a origem da "underclass", em confronto na década de 1970: explicações de cunho cultural (configuradas especialmente na discussão relativa à cultura da pobreza, desenvolvida por Lewis); explicações centradas no racismo que estaria institucionalizado nos EUA (explicação elaborada pelos liberais em reação à tese de Lewis); argumentos conservadores centrados na dependência dos pobres em relação ao welfare state criado pelos liberais (argumento desenvolvido especialmente por Charles Murray); e argumentos centrados em processos econômicos mais amplos, desenvolvidos por Wilson. 11 Para uma crítica da noção de "underclass" -que serviria para reforçar os elementos de desorganização social dos guetos norte-americanos, gerando a estigmatização dos mesmose uma defesa do rompimento com uma abordagem "exótica" da cultura típica dos guetos negros, ver Wacquant, 1996. 12 Conforme aponta Perlman (1977), Lewis desenvolveu a noção de cultura da pobreza de modo difuso em suas obras, destacando alguns traços de personalidade que seriam característicos de certas comunidades pobres e que seriam transmitidos através da socialização. Segundo Perlman, a noção de cultura da pobreza insere-se no registro da culpabilização dos pobres por sua situação.…”
Section: Introductionunclassified
“…Desse modo, tanto a esquerda quanto a direita concordam com a responsabilização do Estado pela marginalidade social massiva, divergindo apenas quanto aos modos adequados de atuação estatal. Os termos utilizados no debate são "exclusão", "relegação", "desqualificação", "desfiliação social" (Kowarick, 2001 18 Uma importante contribuição de Wacquant é o cuidadoso tratamento conceitual ao abordar as áreas segregadas: o autor destaca que nem todos os locais com forte concentração de pobreza podem ser considerados "guetos" nos termos colocados por ele (Wacquant, 1996). Além disso, o próprio autor (Wacquant, 2001) afirma, por exemplo, que não é possível aplicar esse termo às favelas brasileiras.…”
Section: Introductionunclassified