Morte e memória: a necrofilia política da Ação Integralista Brasileira (AIB)

Abstract

O objetivo do trabalho é analisar a atuação da Ação Integralista Brasileira (AIB) na construção da sua galeria de mártires políticos. Esse partido surgiu a partir da unificação de inúmeros movimentos e organizações que se fundiram em 1932 e configurou-se como uma das mais importantes agremiações partidárias, durante a década de 1930. Entre os anos de 1932-1937, os integralistas conseguiram organizar núcleos em quase todas as regiões do país e atrair para suas fileiras milhares de adeptos. O trabalho analisa como os rituais políticos da AIB colaboraram na construção da memória do movimento integralista, utilizando os conceitos de memória, de Jacques Le Goff, e de lugares de memória, de Pierre Nora.

Cultura política e política de massas: aproximações entre integralismo e neointegralismo

“…1935). O articulista do jornal Anauê descreveu como foi o congresso: "O espetáculo foi maravilhoso e por mais que se queira descrever torna-se 4 Estudos mais recentes sobre a simbologia e rituais integralistas podem ser encontrados em: Gonçalves e Tanagino (2012),Fagundes (2012) eAthaides (2012).Passagens:…”

Comunistas e integralistas na imprensa bauruense: questões de ordem (1934-1938)

“…Segundo Fagundes (2012), os rituais que envolviam os integralistas mortos em confrontos de rua foram pensados com o objetivo claro de criar os "mártires" da causa 470 e, como vimos anteriormente, a AIB explorou intensamente o caso da morte do miliciano bauruense para fins de propaganda externa do movimento e para a mobilização daqueles que já estavam em suas fileiras. A memória sobre o camisa-verde que falecia era revestida de uma "ideia de imortalidade", que buscava passar a imagem de que ele iria "continuar servindo o partido" em um novo espaço de organização política pós-morte, como uma espécie de "milícia do Além", na qual seu "comandante" seria Deus.…”

“…Ainda de acordo com Fagundes (2012), os camisas-verdes se empenhavam em "publicar matérias na imprensa sobre os velórios, sepultamentos e homenagens" 471 , com o objetivo de alcançar uma espécie de "sacralização da política" tal como definido por 472 , ou seja, o culto político a partir do corpo com a sacralização dos militantes mortos. Por isso, logo na primeira edição de outubro de 1935 do Correio da Noroeste, era divulgada uma nota informando sobre a realização de missa de um ano pela morte de Rosica, dois dias depois, que seria seguida por uma romaria ao cemitério, até o túmulo do falecido integralista, e no mesmo dia, à noite, ocorreria a inauguração do retrato de Rosica na sede local da AIB, contando com discurso do ex-prefeito Sebastião Lins, considerado como um importante camisa-verde da cidade 473 .…”