Táticas cotidianas e ação coletiva: a resistência das pessoas atingidas pela hanseníase

Abstract

Apesar da existência de uma considerável literatura sobre a história da hanseníase, predominam os estudos que enfocam a opressão e a dominação a que os antigos pacientes foram submetidos. Permanecem pouco estudadas as formas de resistência e as lutas políticas geradas por esses sujeitos. O presente artigo é um esforço nessa direção, abordando como a própria vida cotidiana e as lutas organizadas permitiram o questionamento de sentidos e práticas opressoras. O estudo está embasado em um processo de observação em antigos hospitais-colônia brasileiros, 12 grupos de conversação com moradores dessas instituições, entrevistas não-estruturadas com lideranças do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) e 45 edições do Jornal do Morhan.

Meaning of leprosy for people who have experienced treatment during the sulfonic and multidrug therapy periods

“…This meaning was built and rebuilt historically by the social imaginary of leprosy as something evil 5 , as well as by healthcare practices in Brazil focused on its control. The meaning reveals the fatalism (magicreligious view) as expressed by ES6, the subordination of the patient to medical knowledge-power as reported by ES7 and the control mechanisms as a result of an authoritarian State as narrated by ES8.…”

“…The MORHAN itself 5 emerges as a collective action in the transition from sulfonic to multidrug therapy period, representing the confrontation to the practices of isolation and stigmatization, and for this reason, it included people treated in both periods.…”

“…Despite the existence of considerable literature on the history of leprosy, there is prevalence the studies focused on oppression and domination that the former patients were submitted. Although there are few studies presenting the forms of resistance and political fights generated by these individuals 5 . This is possible from the transformation of meanings that can lead to action.…”

Relações Sociais E Dimensões Íntimas De Idosos Afetados Por Hanseníase

“…Assim, os internos das colônias viviam em pavilhões segregados conforme idade e sexo, e só podiam frequentar os espaços comuns ao mesmo sexo. As histórias eram ainda mais sugestivas quando diziam respeito às pessoas já casadas, nas quais o diagnóstico de hanseníase em um dos pares condenava o casal à separação abrupta (24)(25)(26) .…”

Sexualidade, gênero e afeto nos hospitais-colônias de hanseníase

“…Ao tentar reconstruir as atitudes dos internos durante o auge das colônias, certos pesquisadores enfatizam a cooperação, sugerindo que os residentes acabavam interiorizando as normas da instituição, as realizando como se fossem escolhas individuais (Borges, 2007). Outros enfatizam como os internos traçavam linhas de fuga, criando brechas para escapar do poder disciplinar (Mendonça, 2012). De uma maneira ou outra, podemos deduzir que a experiência de internação produzia efeitos, contribuindo para moldar atitudes, inclusive diante do sexo e do amor.…”