Sob o discurso da “neutralidade”: as posições dos psicanalistas durante a ditadura militar

Abstract

This article examines the position of psychanalytical societies and Brazilian psychoanalysts affiliated to the International Psychoanalytical Association during the military dictatorship in the 1970s. It shows that the period was a time of extended ideas, featuring a large investment in private clinics and a resulting "marginalization" of the social universe doctrine. Through the writings of certain important members of the movement, it seeks to show how, based on the notions of "neutrality", of the primacy of internal reality to the detriment of external reality, and of investment in the "here and now" of the setting, these psychoanalysts chose to allow psychoanalysis to be divorced from politics. It concludes with arguments in support of the importance of the involvement of such professionals in political society.

Who Takes the Rap? Psychoanalysis and Social Clinic

“…Well before the possibility of any reading or studying about the activity of the mentioned clinics, there reached Latin America and Brazil the living repercussions thereof in the bodies of the immigrants originated in the post-war psychoanalytical diaspora. Although we cannot, within the limits of this article, delve into the particularities of the expansion of psychoanalysis in Brazil, it is interesting to stress that, with rare exceptions, the idea of the neutrality of the analyst enjoyed an almost cynic acceptance, especially in the context of the military dictatorship, serving as a support "for a clinic that revealed itself totally disengaged from the social and the political" (OLIVEIRA, 2017). According to Oliveira (OLIVEIRA, 2017), the psychoanalysts "got wealthier as they displaced the analytical listening, with a tradition in the social clinic, towards a new clientele of higher purchasing power, originating from the enlightened bourgeoisie or the ascending middle class and avid for a psychotherapeutic treatment" (OLIVEIRA, 2017, p. 81).…”

Quem Paga O Pathos? Psicanálise E Clínica Social

“…Muito antes da possibilidade de leitura e estudo sobre a atividade das referidas clínicas, chegaram à América Latina e ao Brasil as repercussões vivas das clínicas públicas no corpo dos imigrantes oriundos da diáspora psicanalítica do pós-guerra. Embora não possamos, nos limites deste artigo, nos deter sobre as particularidades da expansão da psicanálise no Brasil, é interessante reforçar que, salvo raras exceções, a ideia de neutralidade do analista gozou de uma quase cínica aceitação, especialmente no contexto da ditadura militar, servindo como suporte "para uma clínica que se revelou desimplicada do social e da política" (OLIVEIRA, 2017). De acordo com Oliveira, os psicanalistas promoviam a elitização da psicanálise, de modo que "enriqueciam enquanto deslocavam a escuta analítica, com tradição na clínica social, para uma nova clientela de alto poder aquisitivo, originária de uma burguesia esclarecida ou das camadas médias em ascensão e ávidas de tratamento psicoterapêutico" (OLIVEIRA, 2017, p. 81).…”

No rastro historiográfico da Psicanálise no Brasil

“…O papel de uma suposta neutralidade analítica esteve presente no discurso dos psicanalistas durante o período da "Era das Escolas". E, tendo se estendido para além do setting analítico, foi um tema já levantado pela historiografia da área (Oliveira 2017;Rubin et al 2016). Segundo o historiador Gomes (2018), o esforço para garantir as condições que possibilitaram uma psicanálise respaldada no saber científico dentro do contexto da ditadura civilmilitar exigiu a construção de um discurso psicanalítico hegemônico e legitimado pela "verdadeira psicanálise".…”