Ciências sociais e educação sanitária: a perspectiva da Seção de Pesquisa Social do Serviço Especial de Saúde Pública na década de 1950

Abstract

Transcreve e comenta três artigos publicados no Boletim do Serviço Especial de Saúde Pública, no início da década de 1950, pelo sociólogo José Arthur Rios. Os textos em pauta trazem importantes referências para a compreensão de um período no qual projetos de mudança cultural orientaram programas de saúde e, em particular, ações de educação sanitária. Na apresentação, procurou-se contextualizar as atividades realizadas pelo Serviço Especial de Saúde Pública, agência criada em 1942, como resultado de acordo de cooperação entre o governo brasileiro e o norte-americano. Destacam-se ainda aspectos da trajetória de José Arthur Rios e de suas influências intelectuais, propondo-se uma discussão sobre o papel do cientista social em áreas não acadêmicas e na formação de agências e políticas públicas no Brasil.

A práxis de Lebret: economia humana, desenvolvimentismo católico e a industrialização do Nordeste

“…O trabalho foi orientado por Lebret, com a direção técnica do sociólogo José Arthur Rios (Lima & Maio 2010), que presidia a SAGMACS no Rio, e a coordenação de Carlos Alberto de Medina, tendo ainda como colaborador Hélio Modesto (Valladares 2005:89). A pesquisa durou três anos, e seu relatório derivou em uma publicação inaugural sobre planejamento e urbanização de favelas 25 .…”

“…25 Sobre o relatório, ver artigo de Rios e de outros autores reunidos na publicação Favelas Cariocas, ontem e hoje (Freire, Mello, Silva & Simões 2012). Após trabalhar como urbanista e sanitarista para vários governos, Rios passou a lecionar na PUC-Rio, onde se aposentou e ganhou o apelido de "professor favela" (Valladares 2005;Lima & Maio 2010). 26 Formado nas hostes da esquerda católica dos anos 1960, Betinho seguia o ideário de Lebret e foi símbolo da luta contra a fome no Brasil nos anos 1990.…”

Economia Humana e desenvolvimentismo católico: o pensamento e a ação de Louis-Joseph Lebret no Brasil

“…Antes que assistencialistas, as ações pastorais deveriam estimular a associação comunitária dos moradores das favelas no intuito de favorecer a sua autonomia e organização política e maximizar sua capacidade reivindicativa de direitos de cidadania. Segundo Lebret, as ações pastorais da Cruzada deveriam expressar o sentido de cooperação técnica entre os especialistas e as comunidades locais, de forma a criar-se uma relação de reciprocidade isonômica, ao contrário do assistencialismo da Fundação Leão XIII, orientado pela hierarquia entre o que assiste e o que é assitido (SCHALLENMULLER, 2010;SOBRAL, 2012;LIMA;MAIO, 2010).…”

"O Sesp nunca trabalhou com índios": a (in)visibilidade dos indígenas na atuação da Fundação Serviços de Saúde Pública no estado do Amazonas

“…Essa compreensão era fruto do proceso de transição para uma sociedade moderna, em que a cultura representava obstáculo a ser superado pela saúde pública (Lima, Maio, 2010). Para lidar com essa dificuldade, na década de 1950 foram contratados cientistas sociais como forma de amenizar os 'prejuízos'.…”