Este artigo é parte de uma dissertação em que se discutiu o que chamamos de 'processo de ciborguização da enfermeira' no contexto da unidade de terapia intensiva. Para isso, buscamos apoio na teorização cultural e no trabalho de autores e autoras que têm problematizado a noção de corpo e de sujeito na pós-modernidade a partir dos pressupostos teóricos do pós-estruturalismo. Ao seguir tais pressupostos, entendeu-se que tanto o humano quanto a máquina são significados culturalmente e que tais significados têm sido produzidos dentro de práticas discursivas específicas. Desde essa perspectiva, procuramos evidenciar, dentre as lições decorrentes do uso intensivo da tecnologia no contexto de saúde, de modo geral, e na UTI, em especial, uma problemática particular, qual seja, a da conversão dos/as profissionais em híbridos humanos-máquinas.Entre os/as autores /as utilizados, indicamos os estudos de Donna Haraway (1,2,3) e seu entendimento de ciborgue -uma idéia produtiva que possibilita explorar a ciborguização da cultura contemporânea e suas implicações para a enfermagem em terapia intensiva. O confronto com a figura do ciborgue, um construto que evidencia a ambíguidade das fronteiras onde as diferenças entre máquinas e humanos são definidas e que, ao mesmo tempo, coloca em xeque um a priori de "naturalidade", nos permite sustentar a noção de que a interface a partir da qual se define o que vem a ser considerado "natural" e "não-natural" está inserida em práticas culturais e sociais complexas e, em última análise, contingentes. Com o conceito de ciborgue buscamos operar, no contexto da problematizaçãodesenvolvida no estudo, no próprio limiar entre as fronteiras do que tem sido afirmado e reafirmado como sendo saúde, doença, vida, morte, humano e tecnologia, natural e artificial, orgânico e inorgânico.Para isso escolhemos como corpus de análise, dentre vários materiais pedagógicos disponibilizados para a equipe de enfermagem em terapia intensiva, alguns manuais e protocolos assistenciais. A partir do exame desses manuais e protocolos assistenciais, procuramos argumentar que, mesmo quando estes operam com algumas polaridades e posicionamentos bem delimitados por pressupostos científicos, o fazem com uma certa ambigüidade quando se trata de abordar ou descrever a relação enfermeira-máquina. Cientes de que tal ambigüidade não é explícita, o exercício que fizemos foi o de, justamente, pretender dar-lhe visibilidade. Sob os pressupostos da análise cultural, os manuais e protocolos assistenciais funcionaram como textos culturais que nos permitiram discutir mudanças das/nas práticas da enfermeira intensivista mediante sua imbricação com os equipamentos da tecnobiomedicina, da bioeletrônica e da informática.Este artigo, em particular, aborda um dos acontecimentos