Historicamente, o foco da enfermagem, em relação ao cuidado, sempre foi voltado ao cuidado do outro e, minimamente, ao cuidado do profissional. Diante da dor, da morte, das condições e organização do trabalho, da prestação do cuidado, os enfermeiros também, ao perderem sua saúde, sofrem seus impactos, dialeticamente, na realização do trabalho. Numa perspectiva foucaultiana, cuidado de si é o modo de encarar as coisas, de estar no mundo, de praticar ações, de ter relações com o outro; uma certa forma de olhar para si mesmo; de ações que são exercidas de si para consigo pelas quais se assume, se modifica, se purifica, se transforma e se transfigura. Estudar o cuidado de si, portanto, possibilita a compreensão não somente das ações dos sujeitos no âmbito da saúde, mas dos sentidos que eles atribuem a essas ações em face dos contextos em que elas são produzidas, justificando suas atitudes frente às realidades vivenciadas. Este estudo objetivou compreender o significado e os desafios para o cuidado de si na perspectiva dos enfermeiros de um Hospital Universitário. Trata-se de um estudo de caso com metodologia qualitativa e, para tanto, a construção e análise dos aspectos sócio demográfico, o diagnóstico das práticas do cuidado de si e os seus desdobramentos para a saúde desses trabalhadores ocorreram por meio de entrevistas semi estruturadas. Participaram deste estudo 15 enfermeiros do gênero masculino que estavam lotados em setores assistenciais e administrativos do cenário estudado, com idades entre 30 e 62 anos. As narrativas foram analisadas segundo a análise de conteúdo na modalidade temática, que permitiram a emersão de cinco categorias temáticas, a saber: 1) "Eu sou eu": desafios do cuidado de si na rotina cotidiana; 2) "Cuidar de mim é...": o cuidado de si entre saberes e práticas; 3) "Escolhas, liberdade, responsabilidade e desafios na produção do cuidado de si"; 4) "O cotidiano do trabalho de Enfermagem e os desafios do cuidar de si: A saúde do trabalhador em foco", 5) "Cuidado de si: desafio institucional frente à Saúde do Trabalhador". Os resultados revelaram que os enfermeiros apresentaram dificuldades para falaram de si, mas se caracterizaram como pessoas "caseiras" e "tranquilas", tendo como entretenimento atividades com a família e amigos. A prática de atividades físicas integra parte do cotidiano desses profissionais, ainda que para alguns não seja rotineira. O cuidado de si vai além do cuidar da saúde, do corpo, da doença e do mundo, ou do famoso check up. O descuido de si é constatado pela reduzida ou ausência de cuidados consigo, como uma alimentação balanceada, prática de atividades físicas e lazer, acompanhamento médico ou realização de exames. A pesquisa reconheceu a importância da subjetividade do cuidado frente ao processo de trabalho e como este impacta naquela, pois o trabalho da enfermagem podem afetar o cuidado de si e o autocuidado e, ao mesmo tempo, impor barreiras nas demandas diárias de trabalho e/ou vida social. Evidencia-se a necessidade de uma escuta humanizada, de uma gestão focada...