“Parto ideal”: medicalização e construção de uma roteirização da assistência ao parto hospitalar no Brasil em meados do século XX

Abstract

Resumo No Brasil, as práticas de parto e nascimento passaram por profundas transformações e intenso processo de medicalização, sobretudo em meados do século XX. Os partos, que ainda aconteciam em sua maioria nos domicílios com assistência de parteiras, passaram cada vez mais a ocorrer nos hospitais, assistidos por médicos obstetras, com intervenções, práticas e rotinas próprias. A partir da análise de 31 artigos publicados em periódicos científicos brasileiros da área da obstetrícia entre os anos de 1930 e 1970, procuramos compreender as ideias em torno do processo de construção de uma rotina “ideal” para o parto hospitalar e os argumentos que sustentavam a consolidação da figura do médico como profissional mais habilitado para a assistência ao parto. O debate de obstetras acerca de uma roteirização da assistência ao parto, incluindo intervenções e práticas obstétricas que deveriam ser realizadas como rotina, lançam luz sobre os primórdios do processo de medicalização do parto no Brasil. Com a justificativa de um dever médico de diminuir o tempo e as dores do parto, e não deixar a natureza “agir sozinha”, as intervenções foram apresentadas como fruto de um novo conhecimento médico-científico que constituiria a obstetrícia moderna.

Avaliação da atenção ao parto e nascimento nas maternidades da Rede Cegonha: os caminhos metodológicos

“…Built over decades, this model is based on the idea that a woman's body is defective and requires corrections 14 , resulting in an excess of interventions and increased risks. In this paradigm, a set of practices has been incorporated into childbirth care, many of them without scientific proof of their effectiveness 16 .…”

"Eu não queria errar”

“…3 Na última década, os relatos de parto se deslocam para os vários grupos criados no Facebook (Hughes 2018, Pulhez 2013, Silva 2020. 4 Sobre as camadas trabalhadoras, Martins (2005) discute como para mulheres no Paraná na primeira metade do século XX a maternidade era mais uma tarefa doméstica.…”

Práticas de assistência à saúde no Brasil e o exercício da autonomia das mulheres no trabalho de parto e nascimento

“…A entrada da enfermagem obstétrica no modelo midwife-led care, no qual tem total autonomia seja na atenção primaria ou terciária na assistência a mulheres com gestações de risco, o qual mostra benefícios principalmente voltados a autonomia e protagonismo das mães, fazendo a retomada da visão de que o parto é algo natural e fisiológico que deve ser tratado como tal, não como um processo patológico (Leal et al, 2019) O papel da enfermagem obstétrica se torna evidente e preciso nas suas técnicas, menos invasivas possíveis, na busca do processo de parto e nascimento fisiológico e controlado pela Research, Society andDevelopment, v. 9, n. 12, e4191210717, 2020 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i12.10717 mãe, a fim de minimizar as intervenções desnecessárias e redirecionar o papel de protagonistas as mães. O tipo de parto realizado tem consequências não somente no momento, como futuras, para as mães, principalmente em relação a recuperação e retorno as atividades diárias comuns (Silva et al, 2019).…”