Tomando como referência a noção de resiliência familiar como um processo interativo e dinâmico, este artigo está voltado para a identificação dos processos de resiliência em famílias com história de violência conjugal. Para tanto, utilizando-se da técnica da narrativa, através do estudo de dois casos de famílias foram identificadas tanto as crenças familiares, os padrões organizacionais e as formas de comunicação em relação aos eventos violentos, como os mecanismos de proteção e as situações de risco nas famílias nos diferentes contextos. Os fatores de proteção não se apresentaram da mesma forma para todas as famílias. Embora se mostrassem semelhantes tinham um sentido diferente, pois cada família manteve suas próprias características de identidade diante da violência respondendo a sua maneira e de acordo com seus valores e crenças. Conclui-se que a presença dos mecanismos de proteção foi fundamental para a construção dos processos de resiliência para as famílias da pesquisa.
Palavras-chave:Fatores de proteção e risco, Família, Resiliência familiar, Violência conjugal.As pesquisas baseadas no construto da resiliência familiar ainda são pouco exploradas (Hawley & DeHann, 1996;Yunes, 2003), sendo escassos os estudos que investigam o sistema familiar na promoção dos processos de resiliência individual. A maioria dos trabalhos está centrada no clima emocional ou na dinâmica de famílias disfuncionais, portanto, baseada no paradigma do déficit (Lietz, 2006). Segundo Ravazzola (2005) o desafio atual é estudar as interações familiares para se conhecer as competências e potencialidades humanas que ficaram postergadas pelas tradicionais pesquisas e tinham foco nos déficits familiares e nas funções maternas e paternas. A partir deste enfoque, a resiliência em famílias passa a ser compreendida como um conjunto de características baseadas na capacidade da família em ter um funcionamento flexível e de contenção dos problemas, não deixando outros domínios do funcionamento familiar interferir no funcionamento de seus membros (Hawley & DeHann, 1996;Walsh, 2005;Yunes, 2003).As pesquisas sobre resiliência têm abordado diferentes situações de estresse no desenvolvimento humano, como traumas, violência, doenças e perdas (Garcia & Yunes, 2006;Lietz, 2006;Yunes, 2001;Yunes, Mendes, & Albuquerque, 2004). Para Walsh (2005), a resiliência em famílias é tecida por uma rede de relacionamentos e experiências que vão se desenrolando durantes os ciclos de vida e entre as gerações, considerando a resiliência como resultado de diferentes relações interpessoais nos diversos contextos sociais e ao longo do tempo. Neste sentido, Walsh (2005) desenvolveu uma abordagem compreensiva da resiliência familiar a partir de uma ótica sistêmica e ecológica do desenvolvimento. "O contexto relacional da resiliência dentro de uma ótica sistêmica expande a nossa visão da adaptação individual para processos transacionais mais amplos
247A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Silvia Pereira da Cruz Benetti, Rua Riveira, 150/301, 90670-16...