Uma etnografia sobre o atendimento psicoterapêutico a transexuais

Abstract

O presente estudo analisa as formas de poder/saber que regulam a prática psicoterápica em grupo destinada a pessoas transexuais requerentes da cirurgia de transgenitalização em um hospital universitário brasileiro localizado em um grande centro urbano. Por meio de observação participante em sessões terapêuticas grupais, foi reconstituída a "microfísica do poder" da clínica, cuja direção parece tentar conformar as subjetividades ali produzidas a certos ideais regulatórios e disciplinares. Entrevistas semiestruturadas àquelas que se submeteram a atendimento psicoterápico como parte do programa de acesso à cirurgia de transgenitalização complementam a estratégia teórico-metodológica descrita, bem como buscam evidenciar alguns dos deslocamentos operados pelos sujeitos como possibilidades de resistência no interior dos regimes hegemônicos de subjetivação do contexto institucional investigado.

La Psicología Como Técnica De Subjetivación

“…Por otro lado, contamos con algunas investigaciones cualitativas foucaultianas con componente etnográfico que estudian cuestiones como las técnicas de escucha psicoterapéutica ligadas a formas de vigilancia dependientes de modos de gobierno de la pobreza urbana en Argentina (Epele, 2015) o el funcionamiento de grupos de psicoterapia con transexuales que solicitan cirugía en Brasil (Oliveira, 2014). Este último trabajo, basado en entrevistas y observación participante, muestra la tensión entre resistencia y disciplinamiento vinculada a la producción de subjetividad transexual a través del hecho mismo de que someterse a la intervención quirúrgica conlleve obligatoriamente ser objeto de experticia psi.…”

Afasta de mim esse CALE-SE\": Narrativas de corporalidades travestis e trans para uma ação clínica e política em psicologia

“…Pela sua narrativa, as pessoas, que indicaram que talvez ela não fosse um homem, abriram a questão da legitimidade de sua identidade para a própria Fernanda. Esta demarcação apresentou-se a mim como importante, uma vez que a identidade de gênero deve (ou deveria) ser autodeclarada a partir de como a pessoa se identifica -ao contrário das ciências naturais, que delimitam, vigiam e delegam quem é o(a) trans de verdade (Bento, 2006;Butler, 2009, Oliveira, 2014.…”

“…", de forma que sua existência seja autenticada, legitimada pela presença de características que lhes tornem "passáveis", manuais de medicina. Só seria mulher ou homem de "verdade" ou, melhor dizendo, "transexual verdadeiro" aquela ou aquele que repudia sua genitália e requer a cirurgia como forma de afirmar o gênero (Butler, 2009(Butler, , 2016Oliveira, 2014). Questiono: até que ponto a busca pela passabilidade não ratifica o diagnóstico dos manuais de psiquiatria e, ainda, indica que as pessoas não-passáveis são "menos" mulher ou homem que outras e outros?…”

“…Ao que parece, esta atitude de desnivelamento de atendimento responde a uma demanda fundamentada na higienização de corpos, ou seja, todo investimento do hospital voltado a esta especificidade dirige-se ao "verdadeiro" ou à "verdadeira" trans de verdade (Bento, 2006;Butler, 2009;Oliveira, 2014), como forma de legitimar a existência desta população, mas que nega as corporalidades travestis por não estarem dirigidas necessariamente a uma reparação cirúrgica "transformadora" de mulheres e homens, como aponta Joyce, ao falar "Tive o AVC, me levaram, me socorreram. Os médicos me botaram na sala de homem.…”

“…A partir da lógica de que a pesquisa pretende ser realizada com travestis, mulheres transexuais e homens trans, intenta-se também refletir a partir de alguns teóricos (Galli & Vieira, 2013;Oliveira, 2014) como vem se delineando a prática de profissionais de saúde, em especial de psicólogos(as), apontando considerações para pensar este lugar (Figueiredo, 2014;Leite Jr., 2011).…”