Este estudo aborda o processo de resistência dos guarani das missões dos Sete Povos entre os anos de 1750 e 1756 contra o Tratado de Madri (1750), destacando como a resistência indígena se configura enquanto um processo de reconhecimento de direitos e de diferenças sociais, econômicas e culturais em relação ao modelo colonial. Desse modo, a resistência dos guarani-missioneiros ganha contornos de autodeterminação de sujeitos subalternizados no aporte teórico decolonial. Nesse sentido, este artigo aborda, brevemente, o processo de transformação cultural e constituição da identidade étnica guarani-missioneiro, e como a luta contra as prerrogativas do Tratado de Madri foi uma busca por manutenção da unidade étnica constituída no cosmos missioneiro. A partir disso, aborda-se a consciência dos guarani-missioneiros de sua importância nos meandros geopolíticos dos séculos XVII e XVIII na região platina e, de igual modo, problematiza-se a situação de negociações entre os indígenas e outros atores que compunham o cenário geopolítico da região, afinal, quando obrigados a saírem de suas terras, os guarani-missioneiros resistiram, advertindo a elite colonial dos seus feitos em prol da Espanha. O objetivo central é, pois, apresentar o protagonismo indígena no processo de luta pela terra e por seus direitos, através de uma perspectiva epistemológica que transcenda as velhas análises eurocêntricas e etnocêntricas sobre o passado missioneiro: em termos historiográficos, utilizaremos estudos comprometidos com um olhar crítico das fontes, tais como Meliá (1978), Kern (1982), Neumann (2015) e Langer (2005).