O uso do SUS como estigma: a visão de uma classe média

Abstract

Resumo Acesso é um conceito central para a efetivação da universalidade do SUS, mas pouco valorizado nas publicações oficiais do Ministério da Saúde. Talvez por isso, o acesso no SUS ainda seja visto como excludente. Desde a implantação da Estratégia Saúde da Família, houve importante melhora no acesso percebido pelos usuários, embora as classes médias permaneçam excluídas do SUS, atraídas pela compra de planos de saúde privados. Esse fenômeno foi observado no território de uma equipe de Saúde da Família do bairro do Grajaú, cidade do Rio de Janeiro, tradicionalmente de classe média, cujos moradores sistematicamente recusavam cadastro e acompanhamento pela equipe. O trabalho teve o objetivo de levantar e analisar as narrativas de recusa desses indivíduos, através de análise temática e de conteúdo. Percebeu-se um estigma associado ao uso do SUS e seus profissionais, e maior confiança na compra do serviço de saúde, justificada pelo medo da falta de leitos para internação e atendimento de emergência. Além disso, as entrevistadas não se apropriaram do SUS como direito. O Brasil atravessa grave crise política, e o SUS, que sempre resistiu sob ameaça, corre ainda maior risco. É necessário que a população possa enxergar um SUS que funciona e apropriar-se dele.

Level of Trust of the Population in the Unified Health System in the Midst of the COVID-19 Crisis in Brazil

“…According to the report, 64% of illiterates approve and trust SUS, while among people with higher education, only 39% trust. It was found that in relation to income, the lower the income, the better the evaluation and confidence in the SUS [19].…”

Divinization, pilgrimage, and social inequality: experiences of women in the access to obstetric assistance

“…Social inequalities and the decrease in financial investment in recent years are added within the scope of the Unified Health System (SUS), which compromises the ability to meet the demand from the perspective of universality and comprehensiveness, 25 the absence of its appropriation as a right and representations anchored in negative views of the system among the middle class. 26 There is a shared perspective among the informants that maternity wards are safe places for childbirth. The routines of modern hospital obstetrics build the narrative that motherhood is a place endowed with professionals and assistive technologies that give women the capacity, protection, and conditions necessary for parturition and essential to maternal-fetal well-being.…”

<b> O acesso universal aos serviços de saúde como construção psicossocial dos usuários/ Universal access to health services as psychosocial construction of users

“…Destaca-se que esse quadro não pode ser desconsiderado, visto que expressa a base social sobre a qual as representações se constroem; além disso, coloca em risco o direito à saúde e o fortalecimento do sistema. Por outro lado, tais problemas apresentados são problemas comuns em países que enfrentam uma profunda desigualdade social e não apenas do Brasil (14)(15)(16) .…”

“…Os dois eixos temáticos orientadores dos discursos analisados expressam representações diferentes sobre o SUSe, também, revelam problemas organizacionais do sistema, que se refletem no cotidiano da utilização dos serviços de saúde.Nas representações dos usuários observa-se a referência ao SUS como um sistema de saúde para todos (7,16) , porém, destinado aos pobres, revelando uma contradição não apenas do sistema, mas também das próprias construções simbólicas dos usuários. Destaca-se que um sistema de saúde universal pode ser concebido pelos usuários como um sistema destinado aos pobres, ao qual se recorre por ser a única alternativa para aqueles que não têm recursos financeiros para outras formas de acesso.…”