O que a seleção de doadores de gametas pode nos dizer sobre noções de raça

Abstract

O artigo, fruto de uma pesquisa em andamento, analisa como é feita a seleção de doadores de gametas para a realização de fertilização in vitro e sua relação com noções sobre raça. Quem realiza essa escolha? Quais características são levadas em conta e, como, e em que medida, essas características apontam para noções referentes à raça? A pesquisa vem sendo feita com médicos e com pessoas que buscam a técnica de doação de gametas em clínicas privadas e um hospital público do interior de São Paulo e com bancos de sêmen da cidade de São Paulo. Busca-se discutir: a importância das semelhanças fenotípicas entre doadores e receptores assinalada tanto por médicos como por pacientes; a intervenção e o controle dos médicos na seleção de doadores; as classificações raciais utilizadas pelas instituições médicas nessa seleção; o desejo, por parte das receptoras, de doadoras semelhantes ou "mais claras" que elas, seja para manter o segredo da doação, seja para que a criança não seja discriminada no futuro.

Sharing motherhood in lesbian reproductive practices

“…Nowadays, the 'new genetics' has been so highly influenced by speeches related to understanding health and illness, that ideas about kinship have become very geneticized (Mamo, 2007(Mamo, , 2010. According to Costa (2004), the banks state that some characteristics, even if they do not influence hereditary traits, are associated with a view to creating identification between provider and receiver, for example, information about religion and hobbies.…”

“…After a first attempt with a Brazilian 17 The Medical Resolution expresses the need for similarities between donors and gamete receivers (CFM, 2013). 18 Costa (2004) observes that while some data are noted by the medical team at the semen bank, other features are also inquired of the provider, which often result in confusion about the definitions of some classifications such as those of race, color and ethnicity. One should note that, in Brazil, race and color definitions depend on the individual's social position, being referenced by features such as class distinction, gender, proximity and prestige.…”

“…This is to enable recognition of 'genetic' similarities between members of the family, maintaining the idea of secrecy that surrounds the practice, with the phenotypical similarities acting as a symbolic surrogate of gene transmission (Daniels, 1998;Schmidt and Moore, 1998;Haimes and Weiner, 2000;Costa, 2004;Jones, 2005;Daniels, 2006). Among lesbians, this search for a match with the partners that compose each couple and enables their representation as a genetic family, has also been highlighted in the literature (Hayden, 1995;Thompson, 2001Thompson, , 2005Jones, 2005;Mamo, 2007).…”

Maternidade monoparental eletiva: a construção de projetos de filiação por meio de tecnologias reprodutivas

“…Os BCTG compreendem os bancos de sêmen, que pode ter caráter terapêutico pelo seu princípio de preservação da fertilidade masculina ao congelar sêmen de homens que irão se submeter a tratamentos que podem ocasionar a esterilidade, como a quimioterapia ou a radioterapia (Costa, 2004). A autora comenta que nesse caso, não há doação do material genético masculino pois o congelamento tem o intuito de uso próprio em momento posterior (idem), diferenciando-se então, dos bancos de sêmen que servem como reservatório para uso seminal em tratamentos de RA (Brasil, 2018).…”

“…Paulo, e estes farão a distribuição do material genético congelado mediante solicitação das clínicas de RA (Machin, 2016). Nestes casos, as clínicas de RA entram em contato com os bancos de sêmen para receberem dados de possíveis doadores (Costa, 2004).…”