ResumoEste ensaio procura sondar certa especificidade do dispositivo conceitual elaborado por Gilles Deleuze, em parceria ou não com Félix Guattari. Partindo da pressuposição de que as noções deleuzeanas e deleuzeguattarianas, não obstante comportarem uma incitação às experimentações radicais de pensamento, possuem um lastro intelectivo que demanda certa prudência investigativa ou analítica por parte dos pesquisadores, propõe-se pensar como estes elementos -experimentação e exegese -, aparentemente antagônicos, convivem no interior do aparato conceitual de Deleuze e Guattari. Sugere-se também uma análise sobre quais as implicações dessa convivência para aqueles interessados em trabalhar com esses autores, mormente no campo educacional. A hipótese a ser experimentada é a da existência de uma pressuposição recíproca entre exegese e experimentação, vigorando no interior da filosofia da diferença, conforme nota-se alhures (referência omitida), o que, por sua vez, demanda por parte do pesquisador operar com aquilo que Luiz B. Orlandi (2000) denominou de composição elementar dos encontros. Essa composição exige a invenção de um par questão-problema singular, resultado do encontro com uma violenta urgência vital que impele um vivente a pensar. Concomitantemente, é capaz de conduzir a um processo de criação conceitual, único movimento capaz de propiciar novos modos de existência aptos a fazer frente àquela mesma urgência vital encontrada. Esse processo implica operar com outra concepção do que significa pensar, colocando experimentação e criação ao lado de compreensão e recognição. Justifica-se tal discussão, uma vez que, costumeiramente, tende-se, nas pesquisas, a operar com algumas noções elaboradas por Deleuze e/ou Deleuze-Guattari de maneira mecânica, transmutando o princípio plástico do conceitual deleuze-guattariano, seu lastro experimental, em uma espécie de fundamento metafísico, e ressaltando apenas * Este texto é uma versão modificada e ampliada de comunicação apresentada no "VIII Colóquio Internacional de Filosofia e Educação: mundos que se tecem entre 'nosotros' -o ato de educar em uma língua ainda por ser escrita". Agradecimentos aos que participaram das discussões sobre o texto, bem como à Fapesp, por financiar este trabalho.