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RESUMO Nossa intenção é apresentar a filosofia da vida de Renaud Barbaras, reunida em Le désir et le monde, e o lugar que ela nos parece ocupar na fenomenologia. Barbaras divide sua filosofia da vida em três níveis: fenomenológico, cosmológico e metafísico. Sem deixar de contemplar seu projeto total, nosso enfoque será mais fenomenológico, destacando, e discutindo, suas noções de desejo, sentimento e relação com o outro.Palavras-chave Renaud Barbaras. Fenomenologia. Desejo. Sentimento. Amor.ABSTRACT Our intent is to present Renaud Barbaras' philosophy of life, assembled in his book 'Le désir et le monde', as well as the place it seems to us it occupies in phenomenology. Barbaras divides his philosophy of life in three levels: the phenomenological, the cosmologic and the metaphysic levels. Though not foregoing his overall project, our focus will be rather a phenomenological one, highlighting and discussing his notions of desire, feeling and relationship with the other. 204 IntroduçãoNo que talvez possamos chamar de uma primeira etapa de sua filosofia, Renaud Barbaras, na sequência dos fenomenólogos pós-husserlianos, em particular de Merleau-Ponty, procura fundar o sentido da correlação fenomenológica, consciência e mundo, como desejo da vida. Como diz Barbaras (2016a, p. 84), o desejo é o sentido mais profundo da intencionalidade fenomenológica, desejo que é movimento em direção ao mundo, como mostra Sartre, mas que é vital, em um sentido bastante radical, porque contemporâneo da constituição do próprio ser vivo (2008, p. 201; 2013, p. 153). Assim, Barbaras também se apoia na e se separa da filosofia da vida de Hans Jonas, que concebe a vida essencialmente como movimento em direção ao mundo, mas fundado na noção de metabolismo, isto é, na necessidade de troca incessante de matéria do organismo com o meio. Ora, mostra Barbaras em mais de um lugar, com o metabolismo Jonas perde não só no caráter transcendental do movimento da vida, mas também no estatuto do próprio movimento vital, pois a ideia de satisfação da necessidade, implicada no conceito de metabolismo, privilegia, contrária à intenção do próprio autor, a concepção de um indivíduo formado, acabado, que se movimenta para manter seu equilíbrio metabólico, quando, a rigor, há somente individuação da vida, contrariando, como veremos mais à frente, nossa arraigada crença de uma visão substancialista da vida (Barbaras, 2008, pp. 213, 215).Também poderíamos dizer que Barbaras procura fundar a correlação fenomenológica no desejo da vida, que se expressa na ambiguidade do termo "viver" (no francês e no português), que significa estar em vida, no sentido intransitivo do termo, e viver sentidos de..., no sentido transitivo do termo, distintos, no alemão, como leben (viver) e erleben (vivenciar). O desejo é o termo que os reúne, explicitando fenomenologicamente seus sentidos como ser desejante do mundo (Barbaras, 1999, pp. 110, 160-161; 2013, p. 134).Em síntese, podemos dizer que a fenomenologia da vida de Renaud Barbaras é a tentativa de explicitação concreta da correl...
RESUMO Nossa intenção é apresentar a filosofia da vida de Renaud Barbaras, reunida em Le désir et le monde, e o lugar que ela nos parece ocupar na fenomenologia. Barbaras divide sua filosofia da vida em três níveis: fenomenológico, cosmológico e metafísico. Sem deixar de contemplar seu projeto total, nosso enfoque será mais fenomenológico, destacando, e discutindo, suas noções de desejo, sentimento e relação com o outro.Palavras-chave Renaud Barbaras. Fenomenologia. Desejo. Sentimento. Amor.ABSTRACT Our intent is to present Renaud Barbaras' philosophy of life, assembled in his book 'Le désir et le monde', as well as the place it seems to us it occupies in phenomenology. Barbaras divides his philosophy of life in three levels: the phenomenological, the cosmologic and the metaphysic levels. Though not foregoing his overall project, our focus will be rather a phenomenological one, highlighting and discussing his notions of desire, feeling and relationship with the other. 204 IntroduçãoNo que talvez possamos chamar de uma primeira etapa de sua filosofia, Renaud Barbaras, na sequência dos fenomenólogos pós-husserlianos, em particular de Merleau-Ponty, procura fundar o sentido da correlação fenomenológica, consciência e mundo, como desejo da vida. Como diz Barbaras (2016a, p. 84), o desejo é o sentido mais profundo da intencionalidade fenomenológica, desejo que é movimento em direção ao mundo, como mostra Sartre, mas que é vital, em um sentido bastante radical, porque contemporâneo da constituição do próprio ser vivo (2008, p. 201; 2013, p. 153). Assim, Barbaras também se apoia na e se separa da filosofia da vida de Hans Jonas, que concebe a vida essencialmente como movimento em direção ao mundo, mas fundado na noção de metabolismo, isto é, na necessidade de troca incessante de matéria do organismo com o meio. Ora, mostra Barbaras em mais de um lugar, com o metabolismo Jonas perde não só no caráter transcendental do movimento da vida, mas também no estatuto do próprio movimento vital, pois a ideia de satisfação da necessidade, implicada no conceito de metabolismo, privilegia, contrária à intenção do próprio autor, a concepção de um indivíduo formado, acabado, que se movimenta para manter seu equilíbrio metabólico, quando, a rigor, há somente individuação da vida, contrariando, como veremos mais à frente, nossa arraigada crença de uma visão substancialista da vida (Barbaras, 2008, pp. 213, 215).Também poderíamos dizer que Barbaras procura fundar a correlação fenomenológica no desejo da vida, que se expressa na ambiguidade do termo "viver" (no francês e no português), que significa estar em vida, no sentido intransitivo do termo, e viver sentidos de..., no sentido transitivo do termo, distintos, no alemão, como leben (viver) e erleben (vivenciar). O desejo é o termo que os reúne, explicitando fenomenologicamente seus sentidos como ser desejante do mundo (Barbaras, 1999, pp. 110, 160-161; 2013, p. 134).Em síntese, podemos dizer que a fenomenologia da vida de Renaud Barbaras é a tentativa de explicitação concreta da correl...
São diversos os caminhos de estudo que se apresentam quando se busca compreender como a fenomenologia descreve a percepção e como suas contribuições podem se ligar às preocupações concretas de quem vive no século XXI. Destacam-se discussões referentes aos vínculos entre a percepção e a ação, entre a percepção e a consciência, entre a percepção e o desejo, à dinâmica da percepção no tocante à passividade e à atividade, ao lugar do corpo nas indagações acerca do fenômeno perceptivo, à relação entre a experiência sensível e o mundo social, além do papel da estética nos estudos da percepção. Neste livro, fruto de pesquisas empreendidas ao longo de nove anos, envolvemo-nos nessas matérias, empenhados em examinar os fundamentos da fenomenologia da percepção e seus desdobramentos a partir de uma matriz conceitual que prioriza, justamente, a natureza corpórea e ativa da percepção.
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