Reis LPC, Rabinovich EP. O fantasma da repetição e a relação mãe/filha. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2006; 16(3):39-52.Resumo: Este estudo de caso foi realizado com o objetivo de verificar a interferência de padrões e crenças familiares no processo de diferenciação de jovens mulheres por meio de estudo de casos. Foram selecionadas sete jovens atendidas no Centro de Orientação da Família (COF), residentes em Salvador, e que apresentavam dificuldades emocionais associadas à vida familiar. Entrevistas semi -estruturadas com as participantes, acopladas a relatórios de atendimentos, forneceram a base empírica do estudo. O conjunto das informações coletadas foi analisado agrupando os conteúdos por temas. O tema destacado, medo de repetir a história de vida materna, foi desdobrado em: ausência da figura paterna; falta de credibilidade quanto à figura masculina; dificuldades associadas à sexualidade e conflitos com a mãe. As jovens investiam sua energia preferencialmente no estudo e objetivo profissional, sentindo-se responsáveis por colaborar economicamente na manutenção do grupo familiar e assumindo papéis que caberiam a seus pais. A sobrecarga e dificuldade para lidar com tais situações repercutiam nas jovens, com incidência de sintomas psicossomáticos, sinalizando a dramaticidade dos conflitos vivenciados. Conclui-se que a possibilidade de emancipação aberta às novas gerações em uma sociedade urbana e individualista entrava em conflito, nos casos estudados, com o ideário ainda tradicional, onde padrões e crenças apontam para a lógica da reciprocidade e solidariedade dos laços de parentesco.
Palavras
INTRODUÇÃOO atendimento psicológico a jovens mulheres fez emergir questões que nortearam o presente estudo: o desejo de se tornarem independentes de suas famílias; os conflitos com a figura materna; e a ênfase em trilhar um caminho que fosse diferente daquele feito pela mãe, devido ao receio de repetir a história da mesma, considerada difícil e sofrida, "um fantasma".Oriundas de famílias matrifocais, a mãe aparecia como a figura de referência por ser a autoridade em casa e, conseqüentemente, com quem tinham mais dificuldade. Em alguns casos, os conflitos ocorriam devido à incompatibilidade entre as suas escolhas e o que as mães pretendiam para elas; ou quando não se sentiam ainda em condições de assumir responsabilidades pela própria vida.A partir daí, foi preciso ampliar o olhar para além do pedido de ajuda destas jovens que não conseguiam lidar sozinhas com estas questões, direcionando-o para suas famílias a fim de conhecê-las melhor. Novas problemáticas