O artigo objetiva discutir a recente imigração haitiana para o Brasil a partir da experiência feminina, visando à construção de uma análise centrada em agentes frequentemente silenciados e invisibilizados, para quem o significado do projeto migratório reforça uma perspectiva laboral e familiar, englobando tanto os membros que permanecem na terra natal quanto os que partem em busca de alternativas. Acompanhando seus pais ou companheiros, mas também de maneira independente ou como chefes de família, manifestam aspirações básicas de trabalhar, obter renda suficiente para sua manutenção no Brasil e da família no Haiti. A abordagem do percurso feminino nesse processo, sob a perspectiva crítica da Sociologia do Trabalho, é construída em diálogo com a etnografia multisituada de itinerários de haitianos que residem e trabalham na região Sul do Brasil, conectados à cadeia agroindustrial da carne. Em vista da modernização dependente do capitalismo em uma sociedade de base escravista, a haitiana, como imigrante, mulher e negra, socialmente vulnerável, enfrenta um mercado de trabalho desigual e segregado, em termos ocupacionais e salariais, segundo o gênero, a raça e a origem, que a direciona ao polo dos trabalhos mais precários e explorados.