IntroduçãoAs duas últimas décadas deste século têm trazido sérios dilemas para o movimento sindical no plano internacional. As mudanças rápidas e radicais por que passa o mundo do trabalho tiveram fortes impactos sobre as formas de atuação dos sindicatos. Os efeitos desse processo vêm sendo indicados em vários estudos sobre a crise atual do sindicalismo, em suas mais diversas linhas. 1 No caso do Brasil, que, diferentemente de outros países, viveu esse cenário mais tardiamente, a redefinição de formas de atuação sindical foi mais dura e mais sentida naqueles setores que, desde a virada dos anos 70 para os anos 80, propugnavam por práticas mais "combativas" e "radicais" de ação. Com tais práticas, esses setores, que conformaram o chamado "novo sindicalismo", pretendiam romper não apenas com as posições então correntes no sindicalismo nacional, mas também, e sobretudo, com aquelas que julgavam caracterizar o passado de sua classe.Tendo completado a sua segunda década de existência, o "novo sindicalismo" enfrenta hoje um importante processo de redefinição, incorporando proposições bastante distintas daquelas defendidas em seus primórdios. A alteração discursiva e prática por que vem passando 2 parece indicar a busca de uma outra identidade. Sendo esta uma data importante, demonstrativa do vigor e durabilidade do movimento, tem ensejado um amplo balanço de sua trajetória nas mais diversas áreas -seja naquelas mais diretamente ligadas à prática política, seja naquelas voltadas ao trabalho analítico.O que se pretende aqui é, retornando aos primórdios do "novo sindicalismo", analisar algumas das visões que se consolidaram no processo de construção de identidades políticas que então se estabelecia e que lhe serviram como sustentácu-lo. A partir da análise do desenvolvimento posterior desse movimento e dos estudos acerca dos sindicalismo brasileiro, o artigo objetiva também indicar possibilidades de interpretação alternativas àquelas visões que se tornaram hegemônicas. * Este artigo é uma versão modificada do trabalho que apresentei ao GT Sindicalismo e Política no XXII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, outubro de 1998. As reflexões nele contidas são resultantes de uma das partes de minha tese de doutorado (Santana, 1998a
Tendo em vista o lugar tradicional dos sindicatos como canal de organização e condução de conflitividade na sociedade brasileira, o artigo se propõe articular a reconfiguração das classes sociais no Brasil contemporâneo, as manifestações atuais da inquietação social e a situação dos sindicatos frente a essa nova configuração. A especial ênfase ao papel dos sindicatos nesta nova conjuntura global parte da premissa de que as diferentes respostas dos sindicatos nacionais ao advento do protagonismo político da juventude trabalhadora em condições precárias de vida e de trabalho representam uma oportunidade privilegiada de observação das atuais reconfigurações classistas em contextos de crise.
Brazil’s “new unionism,” which emerged in the late 1970s, declared itself class-oriented, autonomous, and independent of the state. It proposed to take the lead in defense of eliminating the exploitation of labor by capital and of the real possibility of constructing of a socialist society. Identifying with the most dynamic sector of the working class, it expanded the participation of organized workers in the struggle for their demands. Over time, however, with changes in the political conjuncture and the introduction of neoliberal economic policies, the movement became more institutionalized—retreating from confrontation, devoting increasing attention to electoral politics, and giving more emphasis to hierarchical and bureaucratized leadership. Despite its many achievements, it proved incapable of putting down roots within companies or reducing social inequalities. Overemphasizing the idea of a complete break with the past may have prevented it from giving appropriate attention to the difficulties historically confronted by the labor movement in Brazil. O “novo sindicalismo” que surgiu no Brasil nos fins dos anos 1970 se declarou de classe, autônomo e independente do Estado. Propôs-se assumir a liderança na eliminação da exploração da classe trabalhadora pelo capital, e de conseguir a construção duma sociedade verdadeiramente socialista. Por identificar-se com o sétor mais dinâmica da classe operária, ampliou a participação dos trabalhadores sindicatados na luta para conseguir as suas reivindicações. Sem embargo, ao correr o tempo, com as mudanças na conjuntura política e a introdução de políticas econômicas neoliberais, o movimento pouco a pouco se ia institucionalizando-se, evitando os confrontos, dedicando mais e mais atenção às políticas eleitorais, e enfatizando a liderança hierárquica e burocratizada. Apesar das muitas melhoras que conseguira, se mostrou incapaz de lançar raizes nas empresas, nem reduzir as desigualidades sociais. Tal vez fora, por ter enfatizado demais a ideia de uma ruptura total com o passado, que se impediu de pagar atenção adequada às dificuldades que o movimento operário sempre enfrentarem históricamente, e ainda enfrenta, no Brasil.
The aim of this paper is to analyze how Brazilian trade unions are using social memory as a tool to build up workers' collective identities, in an attempt to fight the fragmentation resulting from the impact of the industrial restructuring of the 1990s. We will draw upon two ongoing programs conducted by the ABC Metal Workers Union (SMABC) and the Oil Workers Union of Brazil's state oil company Petrobras (Sindipetro). The SMABC and Sindipetro have recently been addressing the issue of workers memory with social and public projects. These projects are building up memories, which in spite of being institution-based are also collective, framed by the unions through the use of new types of communication and electronic media.
RESUMOO presente artigo busca traçar o panorama sobre as principais discussões e temáticas de investigação do trabalho e da classe trabalhadora no cenário brasileiro das últimas três décadas, organizando-o em três partes. Na primeira, delineamos o debate em torno da crise do trabalho, as transformações no trabalho e suas configurações, bem como o debate sobre o sindicalismo e as implicações para esse campo de investigação. Na segunda parte, destacamos os novos temas abordados pelo campo e algumas de suas temáticas centrais no período recente. Na última parte, salientamos, como um de seus desafios, a necessidade da agenda da Sociologia do Trabalho brasileira aproximar-se da internacional no tocante à relação entre a crise da globalização, o recrudescimento da precariedade do trabalho em escala nacional e internacional e o impacto sobre o movimento dos trabalhadores, em especial, seus setores mais jovens.
This article discusses the changes taking place in the Brazilian vehicle assembly industry of the 1990s with particular reference to the state of Rio de Janeiro, Brazil. It focuses upon a case study of Volkswagen's bus and truck assembly plant, opened in 1996, and its workers at Resende. The experience of the `modular system' of production has been presented as a major development in vehicle assembly. The article analyses the originality of VW's new form of organization of production and the strategy of the firm to look for localities with weak labour unionism. It also argues that despite the difficulties the local union faced in its attempts to intervene in the process of wage bargaining and to influence the management of aspects of production, there has been a rapid process of mobilizing the new workers for effective labour union action. Copyright Joint Editors and Blackwell Publishers Ltd 2002.
s profundas transformações por que passa o mundo do trabalho ao redor do globo têm sido alvo de uma série de pesquisas e suscitado variada gama de debates. No caso brasileiro, já é de grande monta a literatura sobre o tema 2 . Os mais diversos aspectos têm sido perscrutados no sentido de se compreender a escala dos impactos das referidas mudanças. Um desses aspectos, que tem certo destaque, é aquele que se refere aos reflexos de todo esse processo sobre os trabalhadores, seja com relação à sua vida no trabalho, seja em relação às suas formas organizativas.
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