RESUMOO presente artigo aborda a novela Dão-Lalalão, de João Guimarães Rosa, empreendendo uma análise estilística da narrativa, e articulando-a à teoria psicanalítica de Freud, sobretudo com o conceito de recalque. A partir das indicações do próprio autor da narrativa, contidas em outras obras, propõe-se a metáfora de um sino a badalar como homólogo dos movimentos internos e externos do protagonista. PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa, Dão-Lalalão, oscilação do protagonista, psicanálise, recalque.
ABSTRACTThe present article approaches the novel Dão-Lalalão, by João Guimarães Rosa, undertaking a stylistic analysis of the narrative and articulating with the psychoanalytic theory of Freud, mainly with the repression concept. Starting from Guimarães Rosa's own indications present in other works, its proposed the metaphor of the chime of a bell as correlation with the internal and external movements of the protagonist. Da harmonia ao desespero: o recado do sonho "um passado que, se a gente auxiliar, até Deus mesmo esquece" (D-L, p.8).O presente artigo pretende analisar alguns trechos da novela Dão-Lalalão, de Guimarães Rosa, publicado no ciclo de narrativas Corpo de baile. A partir de análise estilística do texto, sondando os recursos expressivos da linguagem e articulando-os com a teoria psicanalítica, sobretudo com o conceito de recalque, este estudo apresenta uma leitura possível desta obra, investigando pontos pouco estudados e propondo um diálogo com sua fortuna crítica.Já no final da novela A Estória de Lélio e Lina, que integra também o Corpo de baile, o autor mineiro nota o seguinte: "o amor era isso -lãodalalão -um sino e seu badaladal" (ROSA, 1969, p.237). A imagem de um sino a badalar que se relaciona com o amor, seu constante movimento e suas oscilações possíveis, remete à constituição de Dão-Lalalão, não só no nível temático, mas na própria constituição do texto, como se tentará mostrar.Defende-se aqui a hipótese de que a marca desta narrativa é o ir e vir de um pólo a outro, semelhante ao badalar de um sino, apontando para a dinâmica ininterrupta do movimento entre um elemento e seu contrário. Tome-se como exemplo o trecho inicial de Dão-Lalalão. Ao montar em seu cavalo com a intenção de voltar do Andrequicé para sua casa, no Ão, ele se recorda de um comentário elogioso que Doralda lhe fizera sobre o fato dele mal encostar os pés no flanco do animal e este já "entender" o recado de seu condutor.