A interação entre História e Religião é antiga e, apesar dessa quase obviedade, tal constatação sempre envolveu os intérpretes dessas relações em debates inacabados e fortemente marcados pela falta de consenso, os quais, ainda hoje -e sobretudo hoje -, revelam-se atuais. Isso porque a complexidade instaurada na configuração das religiões e formas de religiosidade contemporâneas tem evidenciado o esgotamento dos modelos tradicionais de estudo sobre o tema, os quais, tributários de uma concepção ocidental e ocidentalizante, cunhada entre os séculos XIX e XX, enfatizaram o caráter institucional, congregacional, normativo, ilusório e socializador das religiões (SIQUEIRA; LIMA, 2003).Ao romperem com esses parâmetros convencionais, as atuais manifestações do fenômeno religioso são capazes de revelar o quanto a religião (ou a busca por religiosidade) revela-se entretecida a outros campos do saber, perdendo em nitidez, mas ganhando em complexidade. Tal contingência tem levado pesquisadores de diferentes áreas a refletirem sobre a identidade acadêmica de seus estudos, sintoma esse que se reflete particularmente nas Ciências da Religião, construída a partir de abordagens multidisciplinares, acompanhadas pela pluralidade das opções teóricas, metodológicas e epistemológicas que potencialmente comportam.Nesse sentido, as contribuições reunidas no presente dossiê ilustram algumas das possibilidades e desafios temáticos e teórico-metodológicos enfrentados pela História nos estudos de religião, tendo em vista as relações reversivas que, historicamente, estabeleceramse entre o objeto e a disciplina. Particularmente, elenca alguns estudos que estruturam a trajetória recente da História das Religiões, definida por seu caráter autônomo como disciplina, pela acepção multicultural na percepção do objeto e por uma visão agnóstica na abordagem proposta (MATA, 2010).Tal compreensão da disciplina, que desde seus primórdios tem obtido desenvolvimentos notáveis, é ainda bastante recente e controversa. Por um lado, é inegável que na Europa, na Editorial A abordagem histórica nos estudos de religião: ambiguidades estruturais e desafios contemporâneos