Ao receber a notícia da morte de David Maybury-Lewis, pensei na importância que ele teve para a minha formação como antrpólogo. E, surpreendentemente, constatei que não consigo recordar o momento exato em que o conheci. Recordome, muito bem, da chegada de seus alunos no Museu Nacional, em 1962 com Terence Turner e Joan Bamberger; seguidos nos ano seguinte por Jean Carter e Dolores Newton, e posteriormente por John Christopher Crocker e Cecil Cook, no âmbito do Convênio Harvard-Museu Nacional, organizado por ele e Roberto Cardoso de Oliveira. Eu e meus colegas do Museu Nacional admirávamos a sua postura elegante, a gentileza com que tratava as pessoas, o seu português perfeito. Afinal estávamos diante de um antropólogo britâ-nico, professor da renomada Universidade de Harvard, que tivera a audácia de realizar um difícil trabalho de campo entre os aguerridos índios Xavante, juntamente com a sua mulher, Pia, e o seu filho pequeno, Biorn. Com o passar do tempo, nossa admiração cresceu ainda mais, em virtude de sua ousadia em criticar num artigo famoso o monstro sagrado da antropologia, Claude Lévi-Strauss.Em 1963, tive a oportunidade de participar de seu trabalho de campo junto aos índios Xerente, em Tocantínia, ainda Estado de Goiás. Na verdade, meu trabalho consistia em pesquisar as representações que os moradores da pequena cidade tinham a respeito dos Xerente. Diante da difícil situação existente entre índios e brancos, não era possível a um mesmo pesquisador trabalhar simultaneamente com as duas partes em conflito. Redigi, então, um relató-rio, cujos dados deveriam ser incluídos no seu livro sobre os Xerente, o qual infelizmente nunca foi redigido. Antes de meu regresso, não pude recusar seu pedido de acompanhar suas alunas, Dolores e Jean, até a aldeia Krikrati, no município de Montes Altos,