A evolução do sistema de formulação, tomada de decisão e implementação da política externa brasileira (PEB) não tem sido preocupação rotineira ou objeto preferencial de análise dos nossos acadê-micos. Também por isso, um dos estudos pioneiros sobre o assunto -a dissertação de mestrado de Zairo Cheibub, defendida em 1984, intitulada Diplomacia, Diplomatas e Política Externa: Aspectos do Processo de Institucionalização no Itamaraty -assumiu rapidamente a condição de texto de referência. Cheibub (1984) estabeleceu as bases de uma influente divisão da história institucional da diplomacia brasileira em duas épocas: a "patrimonial" (de 1822 ao fim do século XIX) e, a partir do início do século XX, a "racional-legal" (de aproximadamente 1920 até o início dos anos 1980). As duas fases foram entrecortadas pelo que se chamou de "momento carismático", alusivo à permanência de uma década (1902)(1903)(1904)(1905)(1906)(1907)(1908)(1909)(1910)(1911)(1912) do barão do Rio Branco na chefia do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil. Resumidamente, enquanto a primeira etapa correspondeu ao predomínio das relações personalistas, clientelísticas e fracamente institucionalizadas no tocante aos negó-cios estrangeiros do país, a segunda foi impactada pela modernização 481 * Para a elaboração do artigo, beneficiei-me dos ricos comentários de Carlos Aurélio Pimenta de Faria, Rogério Farias, Túlio Ferreira e dos revisores anônimos de DADOSRevista de Ciências Sociais. Permaneço, não obstante, como o único responsável pelos erros e omissões que poderão ter permanecido nesta versão final.